22 - Hospital

 

Para minha sorte, ela se virou para o paramédico mais próximo, pedindo uma segunda opinião. Desliguei-me dela para poder refletir em tudo que havia acontecido. Quando me levantaram do carro, eu vi o

amassado fundo no pára choque do carro amarelo – um amassado muito distinto, que combinava com os contornos dos ombros delicados de Clara... Como se ela tivesse se jogado no carro com força suficiente

para amassar a estrutura de metal...

E depois, tinha a família dela, olhando a distancia, com expressões que iam da censura à fúria, mas sem a menor sugestão de preocupação pela segurança da irmã.

Tentei pensar em algo que explicasse o que tinha acontecido, algo que não partisse do pressuposto de que eu havia batido com força na cabeça ou que, finalmente, Clara havia me deixado louco.

Eu me senti péssimo durante todo o trajeto. O que piorava tudo era ver Clara andando com as próprias pernas, fazia me parecer um frangote, enquanto ela andava divinamente, sem sequer ter os cabelos

bagunçados. Grr. Trinquei os dentes.

Eles me colocaram na emergência, uma sala comprida com uma fila de leitos separados por cortinas em tons pastel. Uma enfermeira pôs um aparelho de pressão em meu braço e um termômetro debaixo da

minha língua. Como ninguém se incomodou em puxar a cortina para me dar alguma privacidade, decidi que não era mais obrigado a usar o protetor de pescoço que me deixava meio idiota. Quando a enfermeira

se afastou, e ela tinha um traseiro bonito, eu abri o velcro rapidamente e o atirei debaixo da cama.

Houve uma agitação do pessoal do hospital, outra maca trazida para o leito ao lado do meu. Reconheci Adriani Tyler, de alguma sala minha, atrás das ataduras sujas de sangue que envolviam firmemente sua

cabeça. Adrini parecia cem vezes pior que eu. Mas me olhava angustiada. E ela tinha incríveis olhos azuis.

- Eduardo, me desculpe!

- Estou bem. – comentei. Enquanto falávamos, enfermeiras começaram a desfazer sua atadura encharcada, expondo uma miríade de cortes superficiais em toda a testa e na bochecha esquerda de Adriani.

Ela me ignorou.

- Achei que ia matar você! Eu estava indo rápido demais e derrapei no gelo... – ela gemeu quando uma enfermeira começou a limpar seu rosto. Seus olhos brilhavam e parecia à beira das lágrimas.

- Não se preocupe com isso, por azar não me acertou. – brinquei.

Apesar de minha raiva com Clara, não queria que a garota começasse a chorar caso resolvesse descontar nela meu mau humor.

- Ah, não brinca. – sua voz era chorosa. – Mas como você saiu do caminho tão rápido? Você estava lá e de repente tinha sumido...

- Hmmm... Clara me puxou de lá. – fui um pouco duro ao dizer o nome dela, era humilhante confessar que Clara tinha me ajudado.

Ela pareceu confusa.

- Quem?

- Clara Buzzi... ela estava do meu lado. – a mentira teria soado perfeita se minha raiva não fosse tão evidente.

- A Buzzi? Não a vi... Caramba! Foi tudo tão rápido também. E como ela está? – Adriani parecia temer ter feito outra vitima.

 

  - Acho que bem. Está por aqui, só que ninguém a obrigou a usar uma maca. – eu parecia tão claramente aborrecido com o fato que Adriani riu.