23 - Algo à esconder?

 

 

 

Eles me levaram para fazer uma radiografia da cabeça. Eu disse que não tinha nada e estava com toda a razão. Eu perguntei a uma enfermeira se poderia ir embora, naquele momento já sentia tanta humilhação que poderia estrangular Clara quando a encontrasse, a enfermeira me falou que tinha que esperar o médico. Então fiquei preso na emergência, esperando, atazanado pelas desculpas constantes de Adriani e sua promessa de que iria me compensar – se calasse a boca já teria compensado.


Por fim fechei os olhos, trincando os dentes com tanta força que poderia quebrá-los e fingi que não a escutava.


- Ele está dormindo? – perguntou uma voz musical. Meus olhos se abriram.


Clara estava parada de pé, ao lado do meu leito, com um sorriso malicioso. Olhei para ela e toda a raiva se evaporou, só podia notar o quanto ela era bonita.


- Ei, Clara, me desculpe... – começou Adriani.


Ela ergueu uma mão para detê-la.


- Sem sangue, sem crime – disse ela, sorrindo e se sentando na beira do leito de Adriani. Desejei que ela tivesse sentado no meu leito. Para minha felicidade ela se virou para mim e sorriu com malicia novamente.


- E então, qual é o veredicto? – perguntou-me.


- Não há nada de errado comigo. Não me deixam ir embora. E por que você também não está numa maca?


Ela sorriu mais abertamente com minha obvia irritação.


- Tem a ver com que você conhece – respondeu ela – Mas não se preocupe, eu vim libertá-lo.


- Engraçadinha. – ela riu ainda mais.


Depois um médico apareceu e, caramba, me senti meio gay ao admitir o quanto ele era lindo. Ele era jovem, era louro... e muito mais perfeito do que qualquer astro de cinema. Mas era pálido e parecia cansado, com olheiras. Tentei não encará-lo, mas soube imediatamente que era o pai de Clara – pela beleza só podia.


- Então, Sr. Souza, – disse o Dr. Buzzi numa voz extraordinariamente agradável – como está se sentindo?


- Ótimo. – rosnei. Desejava sair daquela maca.


Os dedos frios do médico sondaram meu crânio. Mantive-me imóvel, embora sentisse uma leve dor na região da batida.


- Dolorido?


- Não. – menti.


Ouvi uma risadinha, olhei e vi o sorriso complacente de Clara. Meus olhos se estreitaram.


- Bem, sua mãe está na sala de espera... Pode ir com ela agora. Mas volte se sentir vertigem ou qualquer problema de visão.


- Posso voltar para a escola? – perguntei, seria melhor do que aguentar a neurótica da minha mãe.


- Talvez devesse descansar hoje.


Olhei para Clara.


- Ela vai para a escola?


- Alguém tem que espalhar a boa noticia de que sobrevivemos. – disse Clara, presunçosa.


Lancei um olhar irritado para ela.


- Na verdade, – corrigiu o Dr. Buzzi – a maior parte da escola parece estar na sala de espera.


- Ah não! – gemi, horrorizado. Aquilo seria vergonhoso. Ainda mais com a minha mãe por perto.


O Dr. Buzzi ergueu as sobrancelhas.


- Quer ficar aqui?


- Não, não. – pulei da cama, rápido demais, senti que tudo escureceu. Clara me segurou e nossos olhos se encontraram, ela parecia preocupada. Mas eu só conseguia encarar seus doces olhos esverdeados.


- Você está bem? – perguntou o Dr. Buzzi, um pouco mais alto que o normal, lembrei que estava me segurando na filha dele e a soltei.


- Estou bem. – confirmei.


- Tome um Tylenol para a dor. – sugeriu ele. – Parece que vocês tiveram muita sorte. – disse o Dr. Enquanto assinava meu prontuário com um floreio.


- A sorte foi Clara por acaso estar parada ao meu lado. – corrigi com um olhar duro para ela, que ainda tinha uma história para me explicar.


- Ah, bem, sim. – disse o Dr. e se ocupou e ir para o leito de Adriani.


 Percebi que tinha algo que eles escondiam.