25 - Rejeição

 

 

Estava absorvido pelo mistério de Clara. E ainda mais pela própria Clara, que me rejeita. Idiota, idiota, idiota.

Decidi que podia ir para a cama mais cedo naquela noite, nem senti vontade de ir para o computador, estava realmente abalado com o que Clara me disse. Contra minha vontade tomei o Tylenol por que a droga da minha cabeça realmente estava dolorida.

Sabia que minha mãe me vigiava. Mas fingindo que isso não acontecia eu adormeci.

E essa foi a primeira noite que sonhei com Clara Buzzi.

Em meu sonho estava muito escuro e a voz fraca que havia parecia irradiar da própria Clara. Não conseguia ver seu rosto, apenas suas costas finas enquanto ela se afastava de mim, deixando-me na escuridão. Por mais rápido que eu corria, não a alcançava, por mais alto que gritava, ela não se virava. Perturbado acordei no meio da noite, pensando nela, no acidente e no segredo tão obscuro que ela parecia tentar esconder.

 

O mês que se seguiu ao acidente foi inquietante e tenso.

Para minha felicidade, vi-me no centro das atenções pelo resto da semana. Adriani Tyler estava me seguindo por toda a parte, obcecada em se redimir de alguma forma. Tentei convencê-la que se eu estava bem não tinha problemas – mas ela insistia em se redimir.

Em outros tempos, tempos sem Clara, eu teria adorado a atenção de uma gata como Adriani, mas agora só tinha aquela esnobe branquela em minha cabeça.

O estranho era que ninguém parecia preocupado com ela – ela a garota envolvida no acidente – por mais que eu contasse que ela quase foi atropelada também, ninguém me dava ouvidos. O que me irritava ainda mais era que ninguém se lembrava de tê-la visto por perto até que a van fosse retirada do lugar.

Queria que alguém se lembrasse de tê-la visto mais distante e comentasse como poderia ter estado ao meu lado com tamanha rapidez, mas ninguém parecia ter notado onde estava Clara antes do acidente, por que aparentemente, ninguém a observava tanto quanto eu.

Clara não ficou cercada por uma multidão de curiosos que queriam um relato em primeira mão. As pessoas e evitavam como sempre. Os Buzzi e os Girardi sentavam-se à mesma mesa de sempre, sem comer, conversando entre si. Nenhum deles, em especial Clara, voltou a olhar em minha direção.

Quando ela se sentou ao meu lado na aula, o mais distante de mim que a carteira permitia, parecia totalmente inconsciente da minha presença. Só ocasionalmente, quando seus punhos de repente se curvavam – a pele esticada ainda mais branca sobre os ossos – é que eu me perguntava se ela estava tão distraída como parecia.

Depois me lembrei que ela tinha me rejeitado. Não me queria – eu era um machista, segundo ela. Foi minha vez de cerrar o punho. Irritado com aquela rejeição.

No dia seguinte ao acidente, eu tinha entrado para a aula de biologia e seguido para me sentar tão próximo a ela. Mesmo irritado com tudo que tinha acontecido, não pude deixar de me sentir grato, afinal, ela salvara minha vida.

Eu me sentei, mas ela não deu sinais de ter percebido minha presença.

- Oi, Clara. – cumprimentei, galanteador.

Ela se virou e me olhou de modo arrogante, apenas acenando levemente com a cabeça e voltando a olhar para frente – esse foi nosso último contato desde então.

Eu a olhava, claro, no refeitório, quando chegava na escola, nas aulas de educação física nas segundas – que compartilhávamos. Mas quando me sentava ao lado dela, fingia que estava tão indiferente quanto ela – embora não estivesse, meu corpo reagia a presença daquela garota de modo surpreendente. Eu me sentia infeliz, ela tinha machucado meu ego. E os sonhos continuavam.

Mike pareceu desanimado com a frieza entre eu e Clara, imaginava que talvez eu fosse agradecer mais calorosamente por ela ter me salvado. E isso fazia eu me sentir ainda mais impotente e incapaz.

Você é lindo Eduardo. Lindo, esquece essa garota.

E acho que decididamente, após um mês me lembrando daquilo, eu decidi tomar uma atitude.