28 - ...Duduzinho, querido.

 

 

- Eduardo, meu fofinho? – minha mãe chamou quando entrou em casa. Aquela voz fininha me matava!

 

- Hey. – dei sinal de vida, com desanimo.

 

Enquanto Renata arrumava a mesa para a janta, fique parado no meio da cozinha, sentindo-me deslocado – eu nunca fazia isso.

 

- Ei, mãe. – descobri que chamá-la de Renata fere seus sentimentos.

 

- Sim, Duduzinho, querido.

 

Trinquei os dentes.

 

Eu ainda morro com isso. Ainda morro...

 

- Eu vou a Araquari no sábado, se não houver problemas. – resmunguei, odiava o fato de pedir permissão, mas sou de menor e agora minha guarda pertence a minha mãe. Humilhante!

 

- Por que? E como o senhor pensa que vai? – ela me olhou com rispidez.

 

Mania de mãe preocupada.

 

Suspirei.

 

- Não sei, vou pegar carona com uns amigos. – menti. Eu planejava ir de ônibus mesmo caso não encontre ninguém que posso me levar.

 

Ela estancou enquanto cortava tomate tão subitamente que achei que tivesse cortado o dedo fora. Renata virou-se para mim com um vinco na testa.

 

- Você não vai ao baile, Eduardinho?

 

Inspira. Expira.

 

Por pouco não sai aos gritos pela casa. Droga de cidade pequena onde todo mundo sabe de todo mundo.

 

- Vou ao baile depois que voltar. Não preciso de horas para me arrumar. – como uma garotinha fresca. Revirei os olhos.

 

- Oh. Tudo bem. Só achei que talvez ninguém tivesse te convidado... Esquece. – ela voltou sua atenção aos tomates.

 

Bufando subi as escadas e fui para meu quarto. Conversei com meus amigos pelo MSN. Com meu melhor amigo contei sobre Clara, e sua adorável frase de consolação foi “cara, acho que tu vai ter que rebola para conquistar essa mina!”

 

Isso foi muito animador. Mas o pior era que isso era dolorosamente verdadeiro.

 

Embora meu orgulho não fosse permitir que eu agisse de alguma forma com ela. Mas será que o orgulho valia mais do que conquistar a Clara?

 

Intimamente eu sabia que não.

 

Ouvi o chamado de minha mãe e sai do MSN para ir jantar.

 

 

 

Quando passava pelo estacionamento na escola no dia seguinte, Clara saltou graciosamente de seu carro e veio em minha direção. Andei mais rápido fingindo que não tinha percebido, mas em instantes ela estava do meu lado.

 

- Como você faz isso? – murmurei zangado.

 

- Fiz o que? – perguntou com inocência. A voz perfeita, aveludada.

 

Fechei a cara para seu rosto perfeito, embora por dentro meu coração dançasse de contentamento.

 

- E o que você queria ontem? Que logo se mandou?

 

- Aquilo foi pela Joana, ela precisava de uma oportunidade para lhe fazer o convite. – ela sorriu com meiguice, seus dentes brancos reluzindo para mim, os olhos eram verdes claros hoje.

 

- Clara Buzzi... – murmurei zangado, embora um calor subisse ao falar seu nome.

 

- Eduardo Souza. – ela sorria desdenhosamente.

 

- Falou. O machista... – mas não consegui terminar, voltei a caminhar com rapidez.