3 - Minha nova casa

 

 

Olhei para a janela. Não posso negar que a cidade tem um certo charme, não é totalmente rural como imaginei, parecia divertida. Não perdi muito tempo na paisagem, pelo menos não a paisagem usual. Fiquei reparando nas garotas que passavam.

A maioria era o povão mesmo. Nada de interessante, mas às vezes, aparecia alguma gatinha para salvar. Claro que nada melhor do que uma praia para aglomerar um número maior de gatinhas por m².

Por fim chegamos à casa de Renata – ou melhor, minha nova casa. Era a primeira vez que eu olhava para aquela casa. Um sobrado amarelo, com um muro branco, ajeitado até demais. Feminino demais, eu diria.

Minha mãe estacionou o carro na garagem e saltou. Assim que desci uma coisa horrorosa e peluda, cor-de-rosa veio latindo em minha direção. Aquilo era o fim.

- Mege, calminha. – minha mãe pegou a cachorrinha no colo e a abraçou afetuosamente.

A cadela retribuiu com lambidas e um rabo balançando freneticamente. Era um poodle que havia sido pintado de rosa. Cheguei muito próximo de vomitar. Juro.

- Mege, esse é o Eduardo, nosso novo morador. – minha mãe falou para a cadela, se ela pensava que eu cumprimentaria um cachorro ela estava enganada.

Para meu alivio ela soltou a coisa horrorosa e abriu o porta-malas, deixando-me pegar as malas, novamente tive que lhe dizer para me deixar fazer o trabalho.

Ela me indicou o caminho, no andar superior, meu quarto era o último do corredor, um pouco distante do dela – um dos primeiros à direita. Larguei minha mala no chão e esperei minha mãe sair. Em vão.

- Deixe-me arrumar suas coisas. – ela seguiu para minha mala.

- Não. – novamente quase gritei, as revistas que haviam dentro da mala poderiam não ser agradáveis para minha mãe. – Pode deixar que eu me viro.

- Então vou lhe apresentar a casa. – ela comentou, animada.

- Pode ser depois mãe? Quero guardar minhas coisas, tomar um banho. – fiz uma cara do tipo “qual é? Não vai me deixar sozinho?”.

Acho que ela entendeu o recado.

- Claro meu menino. Vou deixar você livre. – ela me beijou no rosto e saiu do quarto, fechando a porta as suas costas.

Bufei. Tomara que ela não aja assim em público. Me mato se ela me fizer passar tal humilhação. Menino? Aff...

Olhei pela primeira vez para meu novo quarto. As paredes tinham um tom verde água, o que foi um alivio – o único, devo acrescentar. Sobre a cama tinha uma colcha florida e no criado mudo um vaso de flores, tinha que sumir com isso o mais rápido possível.

O computador estava na escrivaninha no canto esquerdo do quarto e ele foi o que eu mais gostei no meio daquele antro de feminilidade. A tela LCD e todos os outros componentes eram muito melhores que meu antigo computador – uma mudança que eu adorei.

Minha mãe havia deixado uma poltrona no quarto. Para que ela acha que vou querer uma poltrona? Teria que pensar nisso mais tarde.

 

 

 

Já vi que seria difícil morar com minha mãe. Pelo menos ela parecia compreender – em raros momentos – que já não sou um moleque. Talvez esse modo de me tratar seja apenas a euforia de minha chegada. É, talvez. Odeio os talvez, são inexatos, me incomodam. Gosto das coisas claras, sem segredos, sem talvez.