35 - '' Faz um favor pra mim''

 

 

- Obrigado. - agradeci meio encabulado. Odiava me sentir impotente diante de uma garota. Que vexame! – Ei, quer ir com a gente ao Piraí no sábado? – convidei, para acabar com aquela ideia de frangote que eu devia ter dado a ela.
    - Aonde vocês vão exatamente? – ela não me olhava diretamente.
    - Ao Piraí, no rio. – analisei seu rosto, percebendo que seus olhos pareciam se estreitar minimamente.
    - Eu acho que não. Não gosto de água suja! – comentou.
    Como eu não me recordava mais nem onde ficava exatamente o Piraí, não pude contestá-la.
    - Entre. – ela abriu a porta e foi para seu lado do carro.
    Irritei-me com aquilo, eu deveria abrir a porta do carro para ela e não o contrário! Entrei um pouco emburrado no carro, Clara já estava sentada divinamente atrás do volante.
    Ela ligou o carro e logo podia sentir o motor suave funcionando. Senhor, que carrão ela tinha!
    - Como é seu pai? – perguntou-me ela.
    - Ele é muito diferente de mim. É caladão, mas muito companheiro. Meu grande amigo. Acho que puxei muito a Renata. – estremeci ao me lembrar do “meu bebê” de minha mãe.
    - Quantos anos você tem Eduardo? – a voz dela parecia frustrada, e eu não conseguia entender o motivo. Ela parou o carro e por baixo da chuva forte pude distinguir a casa de minha mãe.
    - 17. – respondi.
    Ela fez uma careta, ainda parecendo frustrada. Depois mudou de assunto.
    - Então por que seu pai casou com a Solange?
    Fiquei surpreso por ela lembrar-se do nome que havia mencionado há quase dois meses. Eu mesmo esquecia o nome dos meus pais de vez em quando! (brincadeirinha!)
    - Meu pai ficava muito sozinho, cuidando de um filho, entende. Solange faz bem para ele. Ela cuida da casa e tudo isso. – balancei a cabeça, ainda não entendia como meu pai poderia ter se apaixonado por uma mulher que tenha três filhos de bagagem.
    Ela ficou pensativa.
    - E você, não vai me falar de sua família? – perguntei.
    Ela ficou tensa no mesmo instante.
    - O que quer saber?
    - Os Buzzi adotaram você? – conferi.
    - Sim.
    - O que aconteceu com seus pais? – perguntei sem ao menos pensar. Depois achei que pudesse ser meio indelicado da minha parte.
    - Eles morreram há muitos anos. – seu tom era categórico.
    - E seus irmãos? – fiquei curioso.
    - Meus irmãos e, a propósito, Joaquim e Etelvina, vão se irritar muito se tiverem que ficar na chuva esperando por mim.
    Fiz uma careta, com aqueles nomes estranhos.
    - Ok. – comentei.
    - Divirta-se no Piraí.
    - Não vou vê-la amanhã?
    - Não, vou sair com Elidia para escalar.
    - Aonde vocês vão? – quase quis me oferecer para ir junto.
    - Vamos subir a Serra. – ela sorriu, enigmática.
    Lembrei que Renata contou que eles acampavam regularmente.
    - Divirtam-se. – desejei, meio mal-humorado.
    Ela sorriu, divertida com meu humor.
    Eu estava pronto para sair, mas então, mudei de ideia e me virei para encarar o rosto perfeito dela.
    - Clara? – chamei, sedutor.
    - Sim. – ela sorriu tão bela que me encantou ainda mais.
    Sem ao menos pensar duas vezes me aproximei dela, tinha um cheiro gostoso, como se fosse almíscar. Era tão sedutor que eu mal pude me controlar, sequer pensar duas vezes. Me aproximei e encostei meus lábios nos dela. Eram frios e muito duros. Mal tive tempo para desfrutar que Clara se afastou de mim, pressionando os lábios com força, colando na porta, dando o máximo de distancia de mim.
    - Tchau. – disse entre dentes.
    Magoado, abri a porta e sai. Será que eu beijava tão mal? 
    - Faz um favor para mim? – pediu ela, quando eu estava fora do carro.
    - Qual?
    - Tome cuidado! – ela deu um sorriso torto, ainda com o rosto tenso.
    Revirei os olhos.
    - Claro, verei o que posso fazer. – rosnei, zangado. Batendo a porta do carro com força quando sai. O que ela achava que eu era? Uma menininha?