40 - Confusão

 

   

 

 

 

 

No dia seguinte estava ensolarado. Era gostoso acordar e ver o sol da minha janela. Fui para a escola muito mais animado. Embora ainda me incomodasse com meus pensamentos sobre Clara. 

Mas o dia foi terrível, Clara não estava no refeitório – nem sua família.  Achei aquilo bastante incomum. Mas ainda procurei por ela quando cheguei a aula de educação física, que tínhamos junto nas segundas. E me decepcionei ao notar que sua presença estonteante não estava ali.

Comecei a imaginar que ela tinha descoberto que eu sabia a verdade sobre ela e sua família. Temia que talvez fossem embora por ter seu segredo descoberto. Achei que nunca mais iria vê-la.

Acorda Eduardo!, me sacudi, Isso é muito imaturo!

Voltei para casa desanimado. Não queria pensar em Clara. Nem no que ela era.

Estava tão chateado que até chequei meus e-mails e acabei mandando um para meu pai.

 

Pai,

Desculpe, estive bastante ocupado com meus novos amigos.

 

Sabia que o deixaria animado saber que eu estava fazendo amigos e me acostumando com essa nova cidade.

 

Hoje fez sol, e eu sei que isso é realmente raro, então vou aproveitar para pegar um bronze agora. Como vão as coisas ai em casa?

Eduardo.

 

Como eu não tinha nenhum plano para o resto do dia, a não ser ficar no quarto pensando em Clara – e com meu computador presente era até capaz de eu sair devorando sites sobre vampiros, para conseguir todas as informações.

No quintal fui perseguido pelo poodle rosa de minha mãe. O cachorrinho rosnava para mim e, como minha mãe não estava, acertei um chute nele.

Ele ganiu e sumiu de vista, me olhando como se planejasse contar para Renata o que eu tinha feito.

- Eu corto sua língua! – rosnei.

Depois balancei a cabeça. Eu estava falando com um cachorro? Aquilo era loucura!

Ouvi um barulho nos galhos de algumas plantas enormes que minha mãe tinha no jardim. O terreno atrás de nossa casa era um lixo, com todas aquelas árvores e mato!

Atentei-me ao barulho, mas depois dei de ombros e me apoiei no portão, apreciando o sol aquecendo meu rosto.

 

O dia seguinte continuou horrível, quero dizer, ainda tinha sol – um verdadeiro milagre! – mas Clara e sua família não voltaram à escola. Eu começava a acreditar que eles tinham realmente fugido.

Eles sabem!, uma parte histérica do meu cérebro esganiçou.

Deixe de ser menininha, Eduardo!, me policiei.

Quando entramos no refeitório procurei por Clara e sua família, e meu rosto deve ter deixado algo transparecer.

- Ei, cara, - Mike tocou meu ombro. – os Buzzi nunca vem à escola quando tem sol. Desencana. – sorriu. Jessica observava nossa conversa, olhando-me com atenção. – Vamos sair hoje a noite? Podemos assistir um filme, ou algo assim? – ele convidou.

- Tudo bem. Acho que estou precisando sair. – concordei, ainda que não estivesse muito animado.

Naquela noite sai com o Mike. Achei realmente que o passeio fosse me animar, mas não parava de ter meus pensamentos vagando para Clara e seu grande e aterrorizante segredo.

Depois do filme, Mike foi com a galera ver uma loja de materiais esportivos e eu decidi comprar alguns jogos novos para meu playstation – mesmo que eu tivesse dito para mim mãe que não era mais criança para jogar, eu continuava jogando. Acho que para isso não tem idade!

Estava caminhando sem prestar muita atenção no caminho. Havia uma brisa fresca no ar noturno, e eu aproveitava para clarear minha mente com meus pensamentos sobre Clara.

Descobri que estava perdido. Dei outra olhada ao redor e percebi que realmente era desconhecido para mim. E não era nem um pouco o tipo de lugar que alguém gostaria de se perder. As ruas eram sombrias e mau iluminadas, poucos postes ainda funcionavam. Um grupo de pessoas estava parado mais a frente.

Fui pedir informação.

- Eh, oi, podem me dar uma informação? – comecei a ficar nervoso. Eram jovens, entre eles haviam garotas, todos com os olhos vermelhos e inchados.

- Ah, ah, informação? Ah. – falou um, olhando-me desvairado.

- É. – confirmei, engolindo em seco.

Uma das jovens deu um passo a frente. Ela estava com uma minissaia e um top, seu corpo era realmente belo. Só que ela olhava com um olhar doentio.

- Quer informação? – perguntou provocante.

- Sim.

- Eh, o que se ta olhando pra minha mina? – um deles se exaltou, puxando a garota e me olhando desafiador.

- Eu não estava... – quero dizer, não do jeito que ele pensava. Mas ele me interrompeu.

- Que isso seu mane, acha que é assim. Te liga pô. – o cara chegou em mim, pronto para brigar.

Eu também já me preparava. Não ia apanhar daquele panaca neurótico.

Quando o negócio estava num átimo de se tornar uma briga, um carro apareceu como louco na esquina e veio a toda velocidade em direção ao grupo. Eles saíram aos tropeços do caminho. O carro deu uma freada e girou 360º, parando ao meu lado. A porta do motorista se abriu e Clara saiu.