50 - "Eu sei quem ela é"

 

 

No final da aula, Clara me levou para casa, mantivemos nossa conversa provocante como sempre. Eu não ia contar à Renata que iria sair com Clara – era um pouco de minha dignidade masculina não dar satisfações a minha mãe.

De repente, Clara ficou tensa e muito rígida, como uma estatua ao meu lado.

- O que foi? – perguntei, preocupado.

- Uma complicação. – murmurou, entre dentes. – Tenho que ir.

Achei que talvez fosse meu cheiro, ou meu papo, ou apenas eu. Me senti meio rejeitado, mais sai do carro. Era terrível admitir que ela era uma vampira muito mais forte e desprotegida que eu.

- Eu passo para buscá-lo amanhã de manhã. – ela despejou, ríspida, olhando para um ponto além de minha visão.

Bati a porta, contente por pelo menos saber que no dia seguinte ela voltaria. Quando Clara partiu, notei um carro chegando e, dirigindo ele, minha mais nova amiga Julia Galibi.

Do outro lado da rua vinha o carro de minha mãe. Quase revirei os olhos.

Julia desceu do carro com um sorriso para mim. Sua mãe desceu da porta de trás e ajudou o marido a ir para a cadeira de rodas. Julia também ajudou.

Renata foi chegando e estacionou.

Julia se aproximou.

- Ei, Eduardo.

- Oi, você estava dirigindo? – perguntei, um pouco invejoso.

- Sim. Minha mãe tem pavor de dirigir e meu pai, bem, como vê, não pode fazer isso. – ela indicou a cadeira de rodas.

Segui seu olhar encontrando o de seu pai.

Uma complicação, havia dito Clara.

Olhando para ele entendi por que. Estava obvio que ele acreditava na história que sua filha desprezava – e que não gostava nem um pouco disso.

Minha mãe foi cumprimentar chamativamente sua amiga e o marido.

- Então, esse é seu garotão? – perguntou o pai de Julia, havia uma voz imponente nele, tinha os cabelos escuros e a pele acobreada.

- Sim, é o Eduardo. – notei o orgulho de minha mãe.

Quase revirei os olhos.

- Sou Bill, essa é minha esposa Daiane e minha filha Julia, mas acho que já se conhecem, a julgar o quanto ela falou de você.

Julia olhou para baixo, parecendo constrangida.

Bom, eu sempre soube que eu era irresistível!

- Vamos entrar? – convidou Renata.

Daiane empurrou a cadeira do marido. Julia e eu esperamos que eles passassem. Não gostei do modo como o pai dela me olhou, dizia claramente: “eu sei quem ela é!”.