51 - É hoje

 

 

 

O grande dia chegou!

Na véspera Clara havia saído mais cedo da escola para ir caçar, não queria correr riscos comigo. Embora parte de mim achasse aquilo o cumulo, eu ter medo de uma garota, a parte quase lógica tinha que concordar que ela não era uma simples garota.

Era uma vampira.

Ela parecia impressionada que eu estivesse ciente de sua realidade oculta e ainda permanecesse ao seu lado. Bom, eu nunca fugiria de uma mulher. Ainda mais uma tão encantadora, graciosa e linda como ela.

E eu conheci a Elidia, a mais favorável dos “irmãos” dela. Ela era um pouco estranha, um olhar indecifrável, mas tinha uma voz de soprano e um andar gracioso.

Cara, eu queria ser tão gracioso assim. Não feminino, argh, apenas gostoso a todos os olhares, sem exceção. Uh, me imaginei desfilando como um gostosão – mais do que já sou – pelo refeitório, recebendo olhares apaixonados das garotas e tendo os olhares invejosos dos garotos.

Depois me lembrei do que ela dissera, quando Etelvina me encarou com ódio.

“Ela está preocupada, entende, agora que nos assumimos publicamente e isso...” Ela se interrompeu.

“Isso?”

“Acabar... mal.”

Perguntei-me, embora tivesse confiança nela, mas por um momento me deixei levar pela vozinha em minha cabeça que se perguntava se machucaria muito... se tudo acabasse mal.

Esqueci de tudo que estava pensando quando a coisa horrorosa da puddle rosa de minha mãe começou a latir.

Desci as escadas correndo, temendo que minha mãe viesse averiguar o que estava acontecendo. Eu não tinha certeza se ela tinha saído, mas já tinha avisado que ia sair com uma pessoa e que não era para se preocupar comigo – quanto a isso eu não tinha muita certeza, mas não queria que Clara pensasse que não confio nela, ou pior, que tenho medo dela.

Abri a porta e corri para o portão, pensei em chutar o cachorro quando passasse por ele, mas me surpreendi por vê-lo fugir ganindo para o lado oposto.

- Ei, deu o chute que eu tanto quero dar nessa coisa? – perguntei.

- Não preciso. Só minha presença faz esse trabalho. – havia ressentimento em sua voz maravilhosa.

- Como assim? – franzi o cenho, saindo do portão.

- Os animais, em especial os cachorros, são mais sensíveis aos humanos para coisas perigosas. – era uma indireta para mim.

- Está dizendo que essa cachorra sabe o que você é? – havia dúvida em minha voz.

- Saber não sabe. Ela não pensa. Mas aparentemente é mais esperta do que os que se autodenominam racionais. – ela me lançou um novo olhar gelado. Outra indireta.

- Hm, não quero discutir sobre o cachorro. Vamos logo. – mudei de assunto, sem a mínima sutileza.

 Seu rosto se endureceu.

- Entre. – resmungou.

Mais alegre do que nunca, segui direto para o carona do volvo prateado e reluzente – e sim, morrendo de inveja disso. Mas sem me incomodar por que no momento eu estava ao lado da garota mais gata num super-carro.

Caraca, eu nunca acreditaria nisso se me contassem antes!

Sou muito sortudo. Ou gostoso?

Acho que gostoso, se eu não fosse tão encantador ela não teria ficado tão caidinha por mim.

Ela é esnobe. Por isso ela não admite.

Mas hoje ela vai admitir. A se vai.