57 - "Agora Eu Estou Curiosa... Você Já?"

 

 

 

Abri a porta e segui até a janela.

- Clara?

Fiquei preocupado. Talvez ela não viesse. Então me virei para encarar meu quarto e ela estava parada, alguns passos atrás de mim.

Meu coração disparou.

- Desculpe. – ela murmurou. Com uma risadinha.

- Me dá um segundo. – pedi, aos sussurros, tentando me controlar.

Ela foi até minha cama, lentamente. Em seu rosto era visível a diversão em me assustar. Trinquei os dentes. Ela se sentou e acenou para mim.

- Por que não senta aqui comigo? – sugeriu. – E como está o coração?

- Acho que você sabe melhor que eu. – resmunguei, ao notar o sorriso dela. Mas fui rapidamente ocupar o lugar ao seu lado.

Ela não tinha ideia do que se passava na minha cabeça ao estar sozinho, no meu quarto, com ela em minha cama.

Percebi que eu precisava de um banho para me tornar mais apresentável. Embora eu tivesse certeza que independente do perfume que uso meu sangue deve ser sempre melhor.

Atração natural. Eu sou lindo e irresistível!

- Posso ter um minuto como ser humano?

- Certamente. – ela respondeu, calma.

Apressadamente peguei minhas coisas e corri para o banheiro. Eu podia chamar ela para me acompanhar – não me incomodaria nem um pouco. Mas minha mãe estava em casa. E era nosso primeiro encontro romântico. Era melhor eu me comportar.

Tomei um banho rápido. A lembrança de Clara na minha cama era muito boa. Demais eu diria.

Tive que me controlar por um tempo. Sai do chuveiro sem saber o que vestir – enrolado na toalha parecia legal. Humilhante se minha mãe me encontrasse passando pelo corredor.

A contra gosto coloquei uma bermuda. Mas nada de blusa. Eu podia mostrar para ela meu peito definido. Lembrei-me de seus irmãos com um pouco de inveja. Bom, pelo menos meu cheiro era mais atraente.

Fui para meu quarto e Clara ainda estava em minha cama, ela parecia não ter se movido um milímetro durante minha ausência. Fechei a porta e tranquei. Minha mãe não estranharia – sempre faço isso.

Ela me olhou, fiquei feliz ao notar o interesse.

- Bonito? – provoquei, me aproximando.

Ela fez uma careta, mas não discordou.

Me aproximei dela. Clara então repousou sua bochecha fria em meu peito. Eu podia sentir minha respiração ofegante. Ela tinha noção de como meu corpo reagia àquela proximidade?

- Parece mais fácil agora. – passei meus braços em volta dela, num abraço. Com uma mão alisei seus cabelos sedosos. Eu tinha a criatura mais perfeita do mundo em meus braços.

- É assim que parece para você? – ela deslizou seu nariz pelo canto do meu queixo.

- Com certeza! – Coloquei minha mão ao lado do seu rosto e a afastei um pouco, para que eu pudesse tocar seus lábios. Eu estava, literalmente, em chamas. Ela me retribuiu com ardor.

Foi intenso, mas durou pouco.

Ela me empurrou com delicadeza.

- É tão difícil. Mas eu consigo me controlar. – ela comentou.

- Eu não tenho tanto auto controle. – resmunguei.

- Ainda bem que a situação não é contraria. – ela provocou. Com uma risadinha.

- Como você se sente? – eu perguntei isso? Eu perguntei isso? O que está acontecendo comigo?

- É uma surpresa agradável. – ela começou. – Eu nunca achei que pudesse acontecer algo assim. Nos últimos cem anos não aconteceu. E então você entra na minha vida e eu me sinto assim... viva. E mais humana. E eu descubro que consigo ficar com você. Que sou boa nisso...

- Como pode ser tão fácil? – perguntei, ela estava tão perto de mim agora. Tão perto.

- Não é fácil. Acontece que agora eu sei o que eu quero. Eu estou disposta a me controlar.

Eu fiquei animado. Muito animado.

- Estou tentando. – sua voz ficou cheia de dor. – Se for demais... se houver algum risco eu vou embora.

Fechei a cara. Não gostei nem um pouco daquele assunto.

- E será mais difícil amanhã. – continuou ela. – Por que me acostumei com seu cheiro e tenho medo que quando me afaste, mais tarde eu tenha que começar do zero.

- Não vá embora. – sugeri. – Podemos fazer algo muito útil esta noite. – provoquei, cheio de segundas, terceiras e quartas intenções.

Ela deu uma gargalhada, baixinha e exuberante.

Fiquei tão encantado que a beijei novamente, sem pensar nas consequências. Clara deixou que eu a beijasse, mas logo se afastou. Aquilo era enervante. Eu estava querendo mais e mais e ela parava.

- Eu posso ficar. Mas você dorme. Eu observo. – ela sorriu.

- Parece tão animada. – reparei, passando minha mão pelo seu rosto frio e marmóreo.

- Não é assim que deve ser o amor? – ela comentou. – E o ciúme. É tão poderoso, tão forte. Não sabe como eu me senti quando você beijou a Adriani. Os pensamentos dela. A sensação dela com os lábios no seu. Eu quis ser humana naquele momento e poder beijá-lo daquele modo, sem que eu temesse matá-lo. – ela resmungou.

- Agora você pode. – eu me aproximei de novo, beijando-a com volúpia, nossos movimentos sincronizados. Meu corpo estava em chamas.

Ela me afastou, mas parecia tão relutante quanto eu.

- Você não para não é? – comentou, mas tinha um sorriso encantado no rosto. – E naquele dia eu desejei ler sua mente. Entender o que você pensava, sua atitudes. Eu estava envolvida demais entende. Eu queria ir embora. Deixar que você vivesse sua vida. Você era tão metido e machista. Eu disse era? Acho que me enganei. – ela riu, o som era maravilhoso.

Fiz uma careta, mas sorri para ela.

- Eu estava angustiada. Eu não te compreendia. Não sabia quem você queria. Não sabia se você sentia algum interesse ou só queria sair com a solteira mais cobiçada da escola.

- Exibida. – murmurei.

- Eu sei o que eles pensam. Menos você. Isso me deixou vulnerável. Então eu vim aqui. Ver você dormindo. Acordado você é tão... você. Mas quando dorme essa pose de machão cai e eu fiquei te analisando. Sabendo que eu tinha que me afastar. Antes que me magoasse ou te machucasse. E você falou meu nome. Achei que estivesse acordado e tinha me visto. Mas você se virou e falou meu nome novamente. Eu fiquei tão emocionada, por que você pensava em mim. Talvez sonhava comigo. Eu não podia mais ignorar você. Não conseguiria.

Eu nem me acreditei que havia falado o nome dela dormindo. E que eu tinha conseguido que ela não me ignorasse assim, sem nenhum esforço consciente.

- Fico feliz que você esteja aqui. – segurei suas mãos.

- Por mais de noventa anos andei entre os meus e os seus e nunca encontrei ninguém. Nunca me senti assim. Por que você não tinha nascido.

- É uma pena que eu tenha demorado tanto. – comentei, olhando nos olhos dela, encantado.

- Eu acho que valeu a pena. – ela comentou.

Ficamos em silencio por um tempo. Nos olhando. Encantados. Eu pelo menos estava deslumbrado com a presença dela.

- Clara?

- Sim.

- Seus, hã, supostos irmãos estão juntos não estão? Como casais não é?

- Sim.

- Eles agem como um casal normal?

- Imagino que sim. – ela comentou. – A maioria de nossos desejos humanos estão presentes. Apenas são ofuscados pelo desejo de sangue. Tem algo atrás dessa pergunta? – ela foi perspicaz.

- Bom, eu fiquei me perguntando, sobre você e eu... – joguei um charme. É claro que eu me perguntei sobre isso. Fui além até, imaginando isso. Ainda bem que ela não lia meus pensamentos.

Ela ficou séria, imediatamente.

- Não acho que isso seja possível. – sua voz era estranha.

- Seria difícil, eu tão perto?

- Isso é um dos problemas. Mas eu não pensei nisso exatamente. É que eu sou tão forte, Edu. Bem mais forte que você. Forte demais. Eu poderia matá-lo sem querer. Com apenas um descuido. Por um acidente. – ela parecia angustiada com aquilo, a voz num murmúrio. – Eu não posso perder o controle com você. E isso certamente não é algo que possa me manter completamente focada. – ela deu uma risadinha. – Não posso correr o risco. – a voz era conclusiva.

Fiquei absorvendo aquilo por um segundo. Não seria nada fácil suportar com ela tão perto. Por que ela tem que ser tão forte?

- Agora eu estou curiosa... – disse ela, após um tempo. – Você já?

Eu olhei para baixo. Envergonhado.

- Esquece. – ela deu um sorriso amarelo. – Eu não podia esperar outra coisa de você.

Ficou um silencio pesado. Peguei na mão dela.

- Não é isso que você está pensando. – comecei, morrendo de vergonha. – É estranho mais eu... nunca. Claro que já houve a oportunidade mais eu não... não era a garota certa ok? Eu não quis. Eu achei estranho mais eu não quis. Talvez por que não era você. – comentei, ainda olhando para baixo. Eu estava contando que era virgem e ainda sendo romântico. Senhor, acho que o Eduardo está em coma dentro de mim.

Ela tocou meu rosto.

- Não tenha vergonha. Pelo menos temos algo em comum.

Olhei para ela. Sem conseguir pensar no quanto aquilo era humilhante. Ela não parecia debochada. Apenas feliz. Encantada, até.

- E você, gosta de mim nesse sentido?

Ela riu.

- Claro. Posso não ser humana mais ainda sou uma mulher.

- Isso já é bom para mim.

E fui ao encontro dos lábios dela, sedento. Sabia que tinha poucos segundos antes dela me afastar. E resolvi aproveitá-los plenamente.