61 - Convite
Clara me puxou para outro lance de escadas – mas eu não prestava a atenção no caminho e sim no nosso objetivo: o quarto dela!
Com um lindo sorriso ela parou diante da porta e abriu. Dando-me espaço para passar, entrei na frente. Uma parede era totalmente de vidro. Um canto da parede estava repleto de CDs. Oww – eu amo musica.
Fui ao encontro deles.
- Como você separa isso? – perguntei, olhando tudo quanto é estilo: rap, funk, pagode, clássico, sertanejo... Bandas cujo nome só meu bisavô ouviu falar. Era algo incrível.
- Por ano. Às vezes por preferência. – ela deu de ombros.
- Nossa. Deve ser legal ter a eternidade para fazer esse tipo de coleção não é?
Ela fez uma careta.
Continuei a correr meu olhar pelo quarto. Um aparelho de som, ultramoderno – nem achei que vendiam um desses no Brasil.
E, para minha decepção, no lugar da cama havia apenas um sofá de couro preto.
- Sem cama? – eu sabia que minha voz denunciava.
- É. Eu não durmo. – ela confessou, preocupada.
- Nunca?
- Nunca. – ficou me olhando como se eu fosse desmaiar ou algo do tipo.
- Ainda acha que eu vou sair correndo? – perguntei, um sorriso duro.
Ela deu de ombros.
- Lamento decepcioná-la, mas isso não vai acontecer. Você não é nem um pouco assustadora.
Ela levantou uma sobrancelha.
- Ah é? Você não deveria ter dito isso.
E ela se abaixou, um rugido saindo de seu peito. Sem que eu sequer a visse ela me segurava com força em seus braços de pedra e no milésimo seguinte eu senti o couro do sofá em baixo de mim.
Fiquei assustado. Meu coração batendo loucamente. Pensei que ela fosse enfiar seus dentes em meu pescoço ali mesmo. Mas ela sorriu e percebi, com alivio, que estava controlada.
- Como disse? – perguntou, um sorriso provocante.
- Você é muito, muito assustadora. – e colei meus lábios nos dela. O frio de sua pele contra a minha, sentia meu coração se acelerar, mas com aquele contato. Passei meus braços em volta dela. Tentando, sem efeito, puxá-la para mim.
Uma batidinha na porta e no instante seguinte Elidia entrava graciosamente por ele. Clara se sentou e me puxou no sofá – fiquei com vergonha por ela ter me puxado. Que humilhação.
- Achei que você estivesse jantando o Eduardo e vim ver se tinha um pouco para mim. – ela cantarolou, sua voz adorável.
Fiquei tenso.
Clara riu.
- Esse é meu!
Joaquim estava na porta, provavelmente analisando os sentimentos, com um sorrisinho ele entrou.
- Como ela é gulosa. – Elidia fez uma careta. Depois sorriu.
- Clara, hoje vai ter uma tempestade e vamos poder jogar. Edvandro está louco para isso. Quer ir? – Joaquim falou.
Eu não entendi a ligação entre tempestade e jogo.
Clara olhou para mim.
- Obviamente pode levar o Eduardo junto. – Elidia informou.
Os olhos verdes se iluminaram para mim.
- Quer ir? – seu rosto estava tão animado que eu nunca negaria nada. E além disso, jogar era comigo.
- Claro. Aonde vamos?
- Precisamos esperar o trovão para jogar bola. Você entendera por que. – ela informou, o rosto divino animado.
- Vou precisar de guarda-chuva?
Todos riram.
- Ele vai? – Joaquim olhou para Elidia.
Ela pensou um pouco.
- Não. Não vai chover onde jogamos. Só na cidade.
- Ótimo. – a voz do Joaquim era contagiante. Senti-me mais animado ainda.
- Vamos ver se Carlos irá. – Elidia se levantou e foi graciosamente para a porta.
- Como se ela já não soubesse. – Joaquim olhou para nós com uma careta, mas sorriu e acompanhou, com seu porte mais altivo, Elidia para fora.
A porta se fechou sem que eu percebesse.
- Vamos jogar o que? – olhei para Clara, animado.
- Você só vai assistir. – ela informou, para meu desagrado. – Nós vamos jogar futebol.
Fiz uma carranca.
- Desde quando vampiros jogam futebol?