62 - Alerta

 

 

Voltei para casa de carona com Clara. Quando nos aproximamos ela trincou os dentes. Estranhei. Até que notei Julia com sua mãe, Daiane, diante de nossa casa.
- O que elas querem aqui? – perguntei. A expressão de Clara era voraz, parecia uma vampira muito perigosa naquele momento.
Até eu me assustei.
- Alertar sua mãe sobre minha... hum... digamos que má influencia.
- Eu não diria má influencia. Diria maravilhosa! – murmurei, galanteador.
Ela deu um sorriso apertado.
- Tudo bem, Clara. Deixa que eu resolvo isso. – percebi que era sério.
Para meu espanto, ela concordou.
- Ótimo então. Depois eu volto para ser apresentada a sua mãe.
- Como minha namorada. – comentei, animado. A ideia era demais.
Desci do carro e fui ao encontro das duas, Julia tinha o rosto mortificado, Daiane estava com uma expressão impassível.
- Oi. – sorri para elas. Agradecido que minha mãe não tenha voltado de sabe lá Deus onde. – Espero que não estejam aguardando há muito tempo. – comentei, tentando ser simpático.
Eu podia ser simpático com os olhos fechados. Sou bom em tudo que faço mesmo.
- Não muito. – Daiane tinha o rosto duro. Seu olhar mostrava que sabia tudo. Era um alerta, uma ameaça. – Só vim trazer isso. – ela apontou para uma sacola.
Não tinha ideia do que era.
- Hmm, obrigado. Querem entrar? – convidei, desejando que não.
Para meu azar, Daiane aceitou.
Abri a porta fingindo não notar seu olhar perscrutador.
- Deve colocar isso na geladeira. – ela me entregou a sacola. – É peixe frito de Henrique Claire, preferido de sua mãe.
- Hmm, ok. – concordei.
- Julia, pegue lá no carro uma foto de sua irmã, quero deixar aqui para que Renata possa ver.
- Onde está? – olhei para Julia, mas ela não me olhava.
- Acho que na mala. Não tenho certeza. Procure.
Julia foi para a porta.
Daiane e eu nos encaramos em silencio. Depois de algum tempo a quietude começou a ser estranha. Fiquei nervoso. Cruzei os braços, aguardando.
- Eduardo, Renata é minha melhor amiga. – começou.
- Sim. – e daí?
Ela me olhou com cuidado.
- Percebi que tem saído com uma dos Buzzi.
- Sim.
Seus olhos se estreitaram.
- Sei que não é da minha conta. Mas não acho uma boa ideia.
- Tem razão. – concordei. – Não é da sua conta.
Eu estava com a garota mais linda, quem se importa se ela é uma vampira depois disso? Eu que não.
- Você não deve saber a fama ruim que os Buzzi têm para nós.
- Sei sim. Mas isso é meio estranho já que os Buzzi nem podem ir até lá não é? – ela entendeu meu recado, senti sua postura ficar rígida.
Daiane me analisou.
- Você parece bem informado sobre eles. Mais informado do que eu imaginava.
Olhei para ela, arrogante.
- Talvez mais do que você. – Por que eu estive no covil dos vampiros, lá lá lá, eu namoro um deles, lá lá lá, e eu sei mais do que lendas idiotas, lá lá lá.
Tudo bem, chega de infantilidade.
- Talvez. – ela concedeu. Seus olhos astutos. – Renata também está bem informada?
Ops, golpe baixo.
- Minha mãe gosta muito deles. Pronto. – acho que ela entendeu minha evasiva, pelo seu rosto...
- Ela devia saber. – Daiane comentou.
- Não acho que seja bom para ela. – rebati.
Ela pensou um pouco e concedeu.
- Tudo bem. Apenas pense no que está fazendo.
- Claro.
Ela me encarou.
- Quis dizer: não faça o que está fazendo.
Olhei em seus olhos, achando que estava com raiva, mas encontrei apenas preocupação por mim. Não tive coragem de responder. Eu não desistiria da Clara assim tão fácil.
Nesse momento, a porta da frente bateu alto.
- Não tem nenhuma foto no carro. – a voz de Julia era queixosa.
- Então devo ter esquecido. Eduardo diga a sua mãe que passamos por aqui. – seus olhos eram um alerta para mim.
Um alerta que fiz questão de desconsiderar.
- Já vamos? – estranhou Julia.
- Sim.
- Então, nos vemos outra hora Eduardo. – ela sorriu para mim, parecia um pouco decepcionada.
Acompanhei-as e fiquei as observando partir, aliviado. Do outro lado da rua, surgiu o carro da minha mãe. Esperei por ela na garagem.
- Oi Duduzinho! – ela me cumprimentou, completamente animada. – Veja o que a dona Hilda me deu. – ela me mostrou uma toalha de mesa com crochê do lado.
- Ah, maravilha. – não havia animo na minha voz. – Daiane esteve aqui. Ela lhe deixou peixe frito de Henrique.
- Ótimo. Meu preferido. – segui ela para dentro de casa. – O que fez hoje meu querido?
Fiz uma careta.
- Humm, estive na casa do Dr. Buzzi. – comentei.
Ela parou na frente de geladeira, a porta ainda aberta e me olhou.
- Na casa do Dr. Buzzi? – perguntou, atordoada.
- Sim.
- O que estava fazendo lá? Você está doente meu bebê? Precisa de algum remédio? – ela veio colocar a mão na minha testa. Me afastei.
- Para, Re... mãe. Eu estou ótimo. – olhei bravo para ela.
- Então o que fazia lá? – ela ficou mais confusa.
- Bom, eu tenho uma espécie de encontro com Clara Buzzi esta noite e ela queria me apresentar a seus pais. – contei rapidamente.
Aguardei então a reação da minha mãe.