65 - Nômades

Um por um, três vampiros saíram da floresta nos encarando. Vinham cautelosamente, como um grupo de predador diante de um outro grupo muito maior de sua própria espécie.
Eles eram diferente dos Buzzi, logo notei, pareciam mais selvagens, usavam roupas surradas, típico de mochileiros. Estavam descalços. Uma mulher, muito selvagem e ainda assim linda de morrer, ficou mais a frente, parecendo ser a líder, uma morena, os cabelos negros e espessos. Metros ao lado e atrás estava outra mulher seus cabelos vermelhos parecendo fogo. Do outro lado, um homem, cabelos um pouco compridos e amarrados num rabo de cavalo.
O mais sinistro neles eram os olhos, um vermelho vinho assustador. Senti um arrepio.
Eu odiava ver tanta beleza perto de mim. Droga!
Carlos, flanqueado por Joaquim e Edvandro foi ao encontro da morena.
- Oi. Tivemos a impressão de ouvir um jogo. Queremos participar também. – a morena falou, uma voz agradável, delicada demais para seu rosto selvagem.
- Já estávamos encerrando por hoje. Talvez em outra oportunidade. – Carlos comentou, amigavelmente.
- Não sabíamos que haviam outros por aqui. Há tanto tempo que não vemos ninguém da nossa espécie. – a morena comentou.
- Dificilmente aparece alguém por aqui. Exceto alguns visitantes como vocês. Mantemos residência permanente aqui perto.
Todos pareceram espantados.
- Espero não estar tomando a área de vocês. – ela comentou.
- Não se incomode. – Carlos parecia chateado, mas manteve o rosto amigável. – Só gostaríamos que reprimissem sua caça por aqui.
- Não se preocupe. Não pretendemos prejudicá-los. Aliás, sou Laura. Essa é Vitória e Julio. – ela apresentou, levantando sua mão.
- Sou Carlos. E essa é minha família, Jasper e Edvandro, Etelvina, Elidia e Esther, Clara e Eduardo. – ele apresentou-nos, me choquei ao ouvir meu nome no meio.
- Uma pena sobre o jogo. – ela parecia lamentar.
- Realmente. Podemos...
E nesse momento um vento suave moveu meus cabelos, imediatamente Clara se postou diante de mim, protetora, rugindo furiosamente – nada parecido com o som que ouvi naquela manhã. Dei uma espiada e descobri que a ruiva estava diante dela, também rosnando.
- O que está acontecendo? – Laura olhou, curiosa.
- Ele está conosco. – Carlos lembrou, friamente.
Lentamente Laura deve ter notado meu cheiro. Olhou confusa para Carlos.
- Um humano? Trouxeram um lanche?
- Não. Ele está conosco. – ele repetiu, ainda de modo frio.
- Acho que temos muito o que aprender sobre vocês. – a morena comentou. – Não se preocupe, não vamos machucá-lo.
- Podem ir em nossa casa para conversarmos sobre isso? – Carlos estava mais frio.
Mais um olhar de espanto, embora a ruiva ainda me olhasse como carne posta num açougue.
- Claro. Não vamos machucar o menino. Não é Vitoria? – ela teve que puxá-la pelo braço para que ela deixasse de me encarar.
Clara não relaxou. Eu estava prestes a ter um ataque cardíaco. Estava com medo, muito medo. Por mim... Por Clara... Pelos outros Buzzi...
- Clara, leve Eduardo até o Jeep, nós podemos ir correndo.
Vagarosamente, Edvandro deu passos para trás, se aproximando de mim, Elidia já estava ao meu lado. Os outros Buzzi fizeram um tipo de barreira, para me proteger.
Hm, desse jeito eu ia começar a me sentir o máximo!
Clara me puxou pelo braço, nervosa por ter que acompanhar minha velocidade humana até a floresta. Assim que estávamos escondidos ela me jogou em suas costas sem ao menos parar de andar.
Aquilo me irritou – foi humilhante demais. E ainda por cima seus irmãos estavam olhando eu como a mochilinha dela. Argh!
Eu sentia a tensão em seu corpo duro e de pedra. Ainda assim eu sabia que meu coração batia acelerado sobre as costas dela. Ela sabia que eu estava com medo.
Qual é? Todo mundo tem que ser mais bonito e mais forte que eu? Isso é injusto.
Mesmo me carregando, Clara deixou os outros para trás. Ela era realmente muito rápida. Praticamente me jogou no banco de trás e mandou Edvandro fechar a droga do cinto. Qual seria a graça com ele me afivelando?
Ta. Tudo bem. Respirei fundo. Não havia nenhuma graça no momento mesmo. Eu estava em pânico. Só tentava me controlar para não ser uma menininha histérica.
Mas... a menininha histérica berrava a plenos pulmões dentro de mim. Eu queria dar uma cacetada na cabeça dela, mas não conseguia.
Clara já estava no banco do motorista e Elidia ao seu lado. Ela começou a acelerar. Depois de um tempo notei que não estávamos indo para minha casa. Estranhei.
- Onde está me levando? – perguntei.
Ninguém respondeu. Ninguém sequer olhou para mim.
- Droga, Clara. Me diga para onde está me levando? – rosnei.
- Precisamos sair daqui.
- Não. Eu tenho que voltar para casa! – rebati, irritado.
Lutei para sair daquele maldito cinto.
- Edvandro! – disse Clara sombriamente.
Ele segurou minhas mãos. Mais humilhado do que nunca fiquei parado, como se tivesse sido preso por aço. Bom, vindo de Edvandro deve dar no mesmo. Minha raiva aumentou.
- Não Clara. Você não pode fazer isso! – gritei.
- Preciso fazer! Por favor fique quieto Eduardo!
- Não posso, isso é ridículo! Você não pode fazer isso! – minha voz era mais rude, dura, eu estava muito, muito irritado.
- Ela vai vir atrás de você. A caça é sua obsessão. Ela não vai parar quando começar. Temos que tirá-lo daqui! – seu tom era ríspido.
- Não. – que droga Eduardo, por que tu não cala a boca? Pensei. – Você tem que me levar para casa. Minha mãe vai ficar louca. – eu é que estava louco! Desde quando eu me importava com a minha mãe?
- Se acalme Eduardo! – e ela continuou acelerando o carro.
- Não! Renata vai chamar a policia! Vocês vão ter que ir embora, vão ter que fugir por minha causa. Terão que se esconder.
- Acalme-se, já passamos por isso antes! – ela informou, a voz fria.
- Mas não por minha causa! Para essa merda de carro! – rugi do banco onde eu estava, lutando violentamente, em vão.
Elidia falou pela primeira vez.
- Clara, encoste.
Clara apenas disparou um olhar duro para ela e acelerou.
- Clara, vamos conversar sobre isso.
- Você não entende! – ela rugiu de frustração. – Ela é um rastreador, Elidia, não viu isso? Ela é um rastreador!
Senti que Edvandro enrijeceu ao meu lado. Aquela palavra parecia significar mais para eles do que para mim. Não tive tempo para fazer perguntas.
- Encoste, Clara. – o tom de Elidia era razoável, mas havia autoridade.
Eu gostava cada vez mais dela.
- Encoste. – ela ordenou novamente, já que Clara não parecia inclinada a fazê-lo.
- Ouça Elidia... eu li a mente dela! É obcecada por caçar. É sua paixão. E ela o quer. Ele especificamente. Vai começar a caçada esta noite.
- Ela não sabe onde...
- Não vai nem demorar para ela sentir o cheiro dele na cidade. Seus planos já estavam preparados antes mesmo de Laura abrir a boca para promessas infundadas.
Eu arfei, percebendo onde meu cheiro iria levá-la. Não era o melhor filho do mundo, mas não deixaria minha mãe morrer dessa maneira. E por minha causa... Não mesmo.
- Renata! Você não pode deixá-la lá! Ela vai morrer! – eu lutava contra as mãos de Edvandro, sem nenhum resultado. Eu devia no máximo estar fazendo cócegas nele.
- Ele tem razão. – Elidia concordou comigo.
O carro reduziu um pouco.