66 - Planos

 

 

- Vamos considerar as opções. – sugeriu Elidia, tentando persuadi-la.
O carro reduziu mais um pouco. E então parou bruscamente, cantando pneu no asfalto. Fui jogado para a frente e puxado pelo cinto para trás, batendo bruscamente no banco.
- Não há opção! – Clara sibilou.
- Não podemos deixar Renata! – gritei. Por que ela tinha que ser tão cabeça dura?
Ela me ignorou.
- Precisamos levá-lo de volta, Clara. – Edvandro finalmente falou.
- Não. – ela nem pensou.
- Ela não é páreo para nós. Vamos pegá-la! – Edvandro parecia animado.
- Ela vai esperar. – Clara não iria cooperar nessa noite.
Edvandro riu.
- Eu também espero, com muito prazer.
- Vamos não entendem. Depois que ela se compromete com uma caçada é inabalável. Teremos que matá-la.
Edvandro não se incomodou com a ideia.
- É uma opção. – ele deu de ombros.
- E o homem? Está com ela. Pode entrar na briga também. E se a líder resolve ajudar?
- Ainda vamos ganhar fácil, fácil. – Edvandro deu de ombros.
- Tem outra opção. – Elidia comentou.
Clara olhou para ela, rosnando violentamente.
- Não... há... opção!
Eu e Edvandro ficamos chocados com aquela reação. Mas Elidia nem se moveu, parecia calma.
Resolvi interromper.
- Alguém quer me ouvir?
- Não. – Clara foi muito grossa. Elidia olhou para ela, um pouco zangada.
Continuei ainda assim.
- Me levem para casa. Eu falo com Renata, digo que vou embora com um amigo. Vocês vem me buscar e me levam daqui para onde quiser. A vampira maluca deve ver que estou partindo, assim ela vai saber que não estou em casa. Melhor, vou dizer que vou para a casa do meu pai, ela vai acabar lá no Rio. E vocês me levam para qualquer droga de lugar. Minha mãe vai estar segura.
Todos pareciam espantados. Ok, confesso que eu também.
- Pode dar certo e não podemos deixar a mãe dele desprotegida. – comentou Elidia.
Todos olhamos para Clara.
- É perigoso. Não quero que ela chegue perto dele.
Edvandro estava confiante.
- Isso não vai acontecer. Ela não vai nos pegar.
Elidia pensou um pouco.
- Não a vejo atacando. Ela vai esperar que o deixemos sozinho.
- Por favor Clara! – notei que seu rosto ainda era impassível. – Eu exijo que me leve para casa!
Clara fechou os olhos.
- Tudo bem. Mas você vai embora essa noite. Quer ela veja ou não! Invente qualquer coisa para sua mãe. Precisamos de outro carro, para que Renata não desconfie de nós. Edvandro? Pode fazer isso?
- Claro. – ele parecia animado.
- Ela vai fazer algo?
Elidia pensou.
- Não. Vai dar tudo certo. Pode ir.
Edvandro me largou, abriu a porta e sumiu na escuridão.
- Você tem quinze minutos para avisar sua mãe. Entendeu? – ela ligou o Jeep, o motor rugiu e ela fez a volta, voltando a acelerar. – Se o rastreador não estiver lá eu te acompanho até a porta. Sege rápido! Depois que ele sair eu pego o novo carro e você e Edvandro voltam para casa e contem ao Carlos.
- Edvandro vai querer ir com você. – Elidia pensou mais um pouco. – Não importa. Eduardo vai sugerir outra coisa. É uma ótima ideia aliás.
Eu ia fazer outra sugestão? Ai meu Deus, essa adivinha ia me deixar louco.
- Droga, Elidia. Fala logo o que eu vou sugerir por que já estou curioso. – rosnei.
Achei por um ínfimo momento que Clara ia sorrir, mas não aconteceu.
- Você vai dizer para não estar com Clara. O rastreador sabe que onde Clara estiver você vai estar. E vai sugerir para ir mesmo ao Rio, já que vamos fazer parecer que você não vai estar lá. É algo meio diabólico, mas é muito bom. Parabéns.
Clara fez uma carranca.
- E ele vai ficar sozinho? Nossa, excelente ideia! – rosnou.
- Não. Eu e Joaquim ficaremos com ele.
- Não posso fazer isso. – ela sussurrou, mas sua voz não tinha força, ela percebia a lógica do plano. Segundo Elidia, meu plano, eu estava me sentindo o máximo.
- Você fica aqui alguns dias e depois me encontra. No Rio.
- Isso é absurdo. Essa parte. É meio óbvia demais.
- Tão obvia que ela não vai acreditar que estou indo para lá, não acha?
- E se não der certo? – ela queria muito ser negativa hoje.
- Tem milhões de pessoas no Rio. – informei.
- Não é difícil encontrar uma lista telefônica.
- E quem disse que vou para a casa do meu pai? Vou ficar em outro lugar, seguro. Não vou levar o perigo para ele também.
Ela bufou.
- Vai ser melhor assim Clara. Se a pegarmos enquanto Eduardo estiver por perto você vai se machucar tentando protegê-lo. E acredito que ele vai se machucar tentando fazer o mesmo com você. Ele vai ficar seguro conosco. Não se preocupe.
O Jeep estava se aproximando, apesar dos meus planos e tal eu sentia meu braço arrepiado e temia por minha mãe, sozinha naquela enorme casa. Por um instante imaginei chegar em casa e encontrar ela largada no chão, pálida com uma ferida no pescoço. A ruiva me olhando maliciosamente, sangue escorrendo de seus lábios...
- Eduardo? – a voz de Clara era suave e me tirou da imagem sinistra que eu havia formado. – Se algo acontecer com você... sabe que vou me sentir pessoalmente responsável, não é?
- Sim. – concordei. Tentei ser corajoso. – Mas não vai acontecer nada. Não se preocupe Clara.
Ela se virou para Elidia, um pequeno sorriso nos lábios rígidos.
- Joaquim pode lidar com isso?
- Dê algum crédito a ele. Ele está se saindo muito bem. Você sabe disso.
- Você pode lidar com isso?
E Elidia abriu os lábios num sorriso apavorante e soltou um rosnado gutural que me fez encolher no banco de trás – desejei que ninguém tivesse notado.
Clara sorriu para ela.
- Mas guarde suas opiniões para você! – sussurrou.