8 - Realmente muito enganado?

 

 

 

Um garoto loiro, com cara de bebê, passou com o grupo dos esportistas e me olhou, depois voltou para cochichar com eles, que começaram a rir.


 

Riam enquanto podem, vou mostrar que sou melhor que vocês.


 

Me levantei para caminhar até a sala de aula, agora era biologia, chato, mas pelo menos já estava acabando. Erick se aproximou.


 

- E ai, você pegou na coxa da Clara ou algo do tipo durante a aula? – perguntou sorrindo. – Nunca a vi daquele jeito. E olha que ela é bem estranha.


 

Então a garota não era assim? Estava agindo diferente comigo é? Ótimo, provavelmente mexi com ela. Eu sou realmente um gostoso. Já deixei a garota maluca.


 

- Não fiz nada. Nem falei com ela. – comentei, despreocupadamente. Aquela deusa seria minha.


 

Entramos na sala, mostrei meu papel para o professor e fui ao meu lugar no fundo da sala, me sentindo muito mais alegre do que antes. Eu era mesmo um garanhão!


 

Fiquei copiando o assunto sem dar atenção à aula, pensando em Clara com aqueles belíssimos olhos verdes. O último sinal finalmente tocou. Andei devagar para a secretaria para entregar o papel. A chuva tinha ido embora, mas o vento era forte e mais frio. Coloquei a mão no bolso.


 

Ao entrar no escritório aquecido, inflei o peito, orgulhoso.


 

Clara Buzzi estava parada junto à mesa na minha frente. Reconheci novamente aquele cabelo bronze e desgrenhado. Ela não pareceu ter ouvido minha entrada. Fiquei parado, esperando ela olhar para mim.


 

Ela discutia com a secretária numa voz baixa e simpática. Rapidamente peguei a essência da discussão. Ela tentava trocar o horário de Educação Física por qualquer outro – qualquer outro.


 

Meu ego esvaziou.


 

Sério, será que estava realmente muito enganado? Será que ela me repelia com tanto ódio assim? Não era possível isso.


 

A porta se abriu novamente e uma rajada de vento frio entrou pela sala. A menina entrou, colocou algo que parecia uma caderneta numa cesta cheia de outras – notei que eram os diários de classe, e então se retirou. Mas Clara Buzzi se enrijeceu novamente e se virou lentamente para olhar para mim – o rosto era absurdamente lindo – e seus olhos revelavam ódio. Encarei ela com irritação.


 

- Então deixa para lá. – ela disse com uma voz áspera. – Muito obrigada. – virou-se e sem olhar para mim, desapareceu porta afora.


 

Fui irritado até a secretária, entreguei o papel.


 

- Como foi seu primeiro dia, querido? – ela perguntou num tom maternal.


 

Ai, será que todos iam me tratar como um bebezinho?


 

- Bom. – respondi meio rudemente e saiu da secretaria.


 

Fui caminhando com raiva para casa, pensando naquela garota esnobe e ao mesmo tempo estonteante que já mexia com meu coração.