21-Você está bem mesmo?

 

Eu tentei sentar e dessa vez ela deixou, afrouxando o abraço em minha cintura e deslizando para longe de mim, o máximo que permitia o espaço limitado. Olhei para a expressão preocupada e inocente dela e de novo fiquei desorientado com a intensidade de seus olhos cor de ouro. Além de que tudo girava mais um pouco.


Fechei os olhos e respirei fundo.


- Você está bem mesmo? – sua voz era aflita e suave.


Eu abri meus olhos, visualizando Clara diante de mim, dessa vez seu rosto perfeito e pálido não girou.


E então, eles nos acharam, uma multidão de gente com lágrimas descendo pelo rosto, gritando uns com os outros, gritando para nós.


- Não se mexa. – instruiu alguém.


- Tirem a Tyler da van! – gritou outra pessoa. Houve um alvoroço com a atividade em nossa volta. Tentei me levantar, mas a mão fria de Clara puxou meus ombros para baixo.


- Fique parado por enquanto.


- Mas está frio. – reclamei. Fiquei surpreso quando ela riu baixinho. – Você estava lá. – lembrei-me de repente e o riso dela cessou no mesmo instante. – Você estava perto do seu carro.


A expressão dela ficou séria.


- Não estava não.


- Vi você. – tudo em nossa volta era um caos. Eu podia ouvir as vozes mais rude de adultos que chegavam a cena. Mas, obstinadamente, me prendi a nossa discussão; eu estava certo e ela tinha que admitir isso.


- Eduardo, eu estava parada do seu lado e tirei você do caminho. – ela me olhou com atenção, lançando todo o poder de seu olhar sobre mim.


Em outro momento eu teria adorado, mas agora me consumia pela vontade de descobrir o segredo daquela garota.


- Não. – finquei pé.


O ouro em seus olhos se inflamou.


- Por favor, Edu.


O uso de um apelido em mim, confesso, me amoleceu.


- Por quê? – perguntei, suplicante. Toda a obstinação fugindo.


- Confie em mim. – pediu ela, a voz suave e dominadora.


Agora eu podia ouvir as sirenes.


- Mas você vai me explicar depois? Promete?


- Tudo bem. – rebateu ela, repentinamente exasperada.


Foram necessários seis paramédicos e dois professores para afastar a van de nós o bastante para que as macas entrassem. Clara recusou com veemência e eu tentei fazer o mesmo, mas a traidora lhes disse que eu tinha batido a cabeça e devia ter uma concussão.


Senti toda a minha reputação indo ralo a baixo quando me colocaram o protetor de pescoço. Parecia que toda a escola estava ali. Era humilhante ao extremo. Querendo morrer, ou matar a traíra, eu fui colocado na traseira da ambulância.


Clara andava maravilhosamente a minha frente, com perfeição e graciosidade. Aquilo foi enlouquecedor.


Para piorar as coisas, se é que ainda fosse possível, Renata chegou na cena antes que eu pudesse fugir em segurança.


- Eduardo! – minha mãe gritou em pânico.


- Eu estou bem. Estou bem... – murmurei. – Não há nada errado comigo. – mas haveria, muito em breve, se ela me chamasse de bebê diante de toda a escola. Se ela o fizesse, poderiam me levar diretamente ao IML, pois morreria.