26 - Um machista a menos no mundo

 

 

Mike havia me avisado que um evento se assomava no horizonte – o baile de primavera a convite das garotas.


Ele tinha sido convidado por Jessica e os dois pareciam que estavam indo muito bem – ao contrário de Clara e eu. Recebi vários convites de garotas e pensei seriamente em qual deveria ir.


Por fim, quando sentei em minha carteira – Clara divinamente ao meu lado – Adriani apareceu para falar comigo. Senti vontade de mandá-la embora, mas com Clara por perto, resolvi ser bem cordial com a garota.


- Ei, Eduardo, já tem alguém para ir ao baile?


Vi de relance, a cabeça de Clara se voltar em minha direção.


- Não, ainda não. – respondi, mais atento a garota ao meu lado, do que a que estava diante de mim.


- Então... que ir comigo? – ela convidou.


- Claro. Só vou ter que sair no sábado de tarde, mas chego em tempo. Vou a Araquari. – sorri de modo sedutor para ela.


Adriani me deu um sorriso muito contente.


- Até sábado, Edu. – acenou um tchauzinho e saiu.


Fechei os olhos e apoiei minha cabeça nas mãos. O “Edu” de Adriani não tinha soado como o “Edu” de Clara. Trinquei os dentes me odiando por isso.


O professor começou a falar. Resignado, abri os olhos.


E Clara estava me encarando com curiosidade, e aquela frustração que eu já conhecia agora ainda mais evidente em seus olhos escuros.


Eu sustentei o olhar, surpreso, esperando que ela desviasse o olhar e voltasse a fingir que eu – o machista – não existia. Mas ela continuou a me olhar com intensidade nos meus olhos, como se me sondasse.


- Senhorita Buzzi? – chamou o professor, esperando a resposta para uma pergunta que eu não ouvira.


- O ciclo de Krebs. – respondeu Clara, parecendo relutante ao se virar para o professor.


Fiquei completamente tenso com aquilo, e tentei não me exibir demais para aquela esnobe. Só por que Clara havia me olhado pela primeira vez em meia dúzia de semanas, não significava que eu tivesse que agir como uma garotinha apaixonada.


Eduardo, olha a atitude!


Quando o sinal tocou, orgulhoso, dei as costas para Clara e fui guardar meu material, esperando que ela sumisse da sala mais rápido do que eu pudesse olhar para seu traseiro, como sempre.


- Edu? – a voz dela não devia ter soado tão familiar. E eu não devia ter gostado tanto desse “Edu”.


Eu me virei devagar, sem vontade nenhuma. Não querendo sentir o que eu sabia que sentiria ao encarar seu rosto perfeito demais. Minha expressão era cautelosa quando a encarei, ainda me sentia terrivelmente torturado pelo que ela me disse quando me salvou. Machista.


Ela não disse nada, sua expressão era ilegível.


- Que foi? Está falando com o machista de novo? – perguntei com petulância.


Os lábios dela se retorceram, reprimindo um sorriso.


- Na verdade não. – admitiu ela.


Encarei seus olhos escuros com altivez, me recusando a me rebaixar por aquela garota – eu sei, eu sei, perfeita garota. Mas ainda assim me recusava a ser um fantoche de Clara.


- Então o que você quer Clara? – perguntei com irritação. Ainda que apenas de olhar para ela um frio se espalhasse pelo meu abdômen.


- Desculpe. – ela parecia sincera. – Tenho sido indelicada, eu sei. Mas é o melhor, pode acreditar.


Encarei ela com ceticismo – se ela soubesse o que era melhor, me diria que eu era um gostoso irresistível e que queria ficar comigo agora mesmo.


Infelizmente, para mim, isso não era o que ela considerava o melhor.


- Não entendo o que quer dizer? – respondi com mais raiva.


- É melhor não sermos amigos.


- Poderia ter me deixado morrer naquele dia com a van, pouparia arrependimentos.


- E você poderia deixar de ser machista, pouparia o seu ego. – respondeu ela com mira, acertando exatamente no alvo. Quebrando-me ao meio.


- Seria um machista a menos no mundo. Eu sei que você teria adorado que isso ocorresse. - rebati. Ainda zonzo com a resposta dela, tinha sido fatal.


 

- Você não sabe de nada Eduardo! – respondeu ela, sem dúvida zangada.