30 - Desistindo

 

Fui para a aula de inglês, sentindo-me que flutuava. Eu iria sair com a Clara. Com a Clara Buzzi! Nem notei que a aula já havia começado – como se me importasse.


- Muito obrigado por se juntar a nós, Eduardo. – o professor disse num tom depreciativo.


- De nada. – respondi, sem a menor vergonha, e caminhei para meu lugar lá no fundão da sala.


Eu estava tão atordoado com a proposta de Clara, que quando vi Adriani na porta de minha sala, senti um mal estar. Eu me esqueci completamente da garota – e eu esquecendo garota não é algo normal.


- OI, Edu. – ela me beijou na boca.


Mesmo tentando, não consegui deixar de pensar em como os lábios de Clara deviam ser melhores.


Droga! Essa garota ia me levar ao colapso!


- Er, tenho que ir para a próxima aula. – me afastei dela, mentindo claro, eu nunca perderia uns amasso para ter aula. Mas Clara. Ah, Clara! Ela estava matando meus neurônios.


O resto da manhã passou indistintamente.


Fiquei apreensivo enquanto entrava no refeitório, aguardando encontrar o os olhos verdes dela, ou talvez mais escuros, na mesa junto com seus irmãos.

Estava ao lado de Mike, caçando ela com os olhos – a decepção me decepou. Os outros quatro estavam ali, mas ela não.


Adriani apareceu ao meu lado. Afastei ela sem o mínimo tato. Talvez a tenha magoado, não me importava.

- Ei, cara, Clara Buzzi está olhando para você! – disse Mike, a inveja latente em sua voz. – Por que será que ela está sentada sozinha hoje?

Levantei minha cabeça de repente. Segui o olhar de Mike e vi Clara, sorrindo torto, olhando-me de uma mesa vazia do lado oposto de onde sentava sua família no refeitório. Depois de ver meus olhos, ela levantou a mão e gesticulou com o indicador para que eu me juntasse a ela. Enquanto eu encara sem acreditar, Clara deu uma piscadela.

- Ela quer sentar com você? – perguntou Mike, cada silaba aumentando sua inveja. – Ual, cara. Vai rápido.

- Não, Edu. – a voz acabou com minha cena de filme.
Encarei Adriani com irritação.

- Por que não? Temos um trabalho a tratar, por favor, não interfira em minha vida. – esbravejei.

Ela me encarou com raiva. Mas ficou em silencio. Tomei o silêncio como uma concordância e me afastei.

Quando cheguei a mesa de Clara, tinha um sorriso sedutor em meus lábios.

- Deseja conversar sobre algo? – perguntei com ironia.

- Não. Apenas achei que poderia sentar comigo hoje. – a voz aveludada perguntou, ela sorria.

Eu sentei-me imediatamente, para evitar que ela mudasse de ideia. Clara me encarava.

- Isso é diferente. Resolveu conversar com o machista? – resmunguei, ainda sorrindo com charme.

- Bom, - ela sorriu com meiguice – já que vou para o inferno, unir-me a machistas não vai fazer diferença.

Esperei que ela concluísse a frase, mas Clara ficou em absoluto silencio.

- Sabe que não tenho ideia do que acabou de dizer? – ressaltei por fim.

- Eu sei. – ela sorriu e mudou de assunto. – Acho que sua Adriani ficou com raiva por que roubei você dela. – comentou.

- Ela vai sobreviver. E sendo você, pode me roubar o que quiser. – completei, não perdendo a oportunidade.

Ela gargalhou.

- Mesmo? Talvez eu roube você e não devolva. – tinha um brilho perverso em seus olhos.

Aquilo, ao invés de me animar, me deixou preocupado. Algo na voz dela tornava aquilo perigoso e não sedutor.

- Preocupado?

- Nunca. Com você eu não me preocupo. – menti, galanteador. – Só surpreso com a situação. Mas adoro ficar surpreso. – acrescentei depressa.

- Já lhe disse. Eu posso lidar com machistas. Então estou desistindo. – ela sorria, mas os olhos verdes eram sérios.

- Desistindo? – fiquei confuso, afinal ela já tinha me deixado com neurônios a menos.

- Sim, sim. Vou deixar as coisas rolarem. – seu tom era sério, talvez preocupado.

- Rolarem, entre nós? – eu mal podia acreditar.

 - É. – ela deu um sorriso maravilho. Perdi o fôlego.