36 - Eduardinho
Eu não ansiava mais pela sexta-feira. Não sabendo que Clara não estaria na escola. E não podia esquecer a reação dela ao meu beijo. Eu não beijava tão mal. Mas talvez não fosse o suficiente para a esnobe Clara Buzzi.
Tive que ouvir alguns comentários do Mike sobre ter saído da aula de biologia – inventei outra história para não acharem que passei mal por causa do sangue. Embora tenha sido exatamente isso que tinha acontecido.
- E então, o que a Buzzi queria com você ontem? – perguntou Mike no início da aula.
- Apenas conversar. – comentei.
- Eu nunca a vi se sentar com alguém além da própria família. – ele jogou verde. – É esquisito não acha?
- Esquisito. – concordei.
Eu tinha me esquecido, claro, de outra pessoa.
- Edu, por que você foi embora mais cedo ontem? – Adriani veio exigente ao meu encontro. – E o que Clara queria com você?
Lembrei de minha promessa para Clara, e somente por isso não fui grosso com Adriani.
- Não estava bem. E Clara só queria conversar sobre um trabalho de biologia. – menti.
- Tudo bem. – ela se aproximou de mim, pronta para me beijar. Segurei ela antes que fizesse isso.
Quero dizer, Clara me pediu para não magoar ninguém. Mas terminar com Adriani poderia significar que eu ficaria sem ela e sem a Clara.
Mas não terminar com Adrini, significa que não confio na minha capacidade de conquistar a Clara.
Foram apenas segundos até tomar minha decisão.
- Desculpe, Adriani, não quero mais ficar com você. – era a primeira vez na vida que eu pedia desculpa antes de dar um pé na bunda.
- Como é que é? – ela parecia indignada.
- Você ouviu muito bem. – não conseguia ser delicado por muito tempo.
- É por causa da Buzzi não é? – exigiu.
- Não interessa. Está acabado. Ponto.
E dei as costas para Adriani, se dirigindo para minha sala, sem sentir um pingo de remorso.
A pior parte daquele dia foi saber que Clara não vinha e ainda assim procurar por ela no refeitório, quando cheguei com Mike, Jessica e o resto dos jogadores.
Em minha mesa todos estavam animados com os planos para o dia seguinte. Eu mal me alienava com o que falavam. Pensava apenas em Clara e quando nos veríamos novamente.
No jantar, Renata parecia animada com minha viagem ao Piraí. Acho que se animava ao saber que eu estava me enturmando, talvez temesse que se eu não me habituasse e resolvesse voltar para casa.
-Oh, meu bebezinho, você vai se divertir muito amanhã. – dizia ela, ainda não tinha perdido a mania de me chamar de bebê. - Se encontrar minha amiga Daiane, fale com ela.
- Mas eu não conheço ela!
- Ela te conhece. Mostrei fotos suas.
Oh, não. Não! Resolvi mudar de assunto.
- Conhece a Serra, mãe?
- Nunca fui. Já ouvi falar. Por que, meu bebezinho?
Dei de ombros, trincando os dentes.
- Ouvi um pessoal falando que vai acampar lá.
- Não é muito bom para acampar lá. Não quero você junto, meu queridinho. É muito perigoso. Animais selvagens. Nunca vá lá Eduardinho.
- Tá. – resmunguei.
Eduardinho? Isso estava ficando cada vez pior.
