44-'' Por favor,não!''

 

 E então uma súbita verdade caiu em mim.

- Foi caçar no fim de semana, com a Elidia? – perguntei, estupefato com minha perspicácia. Cara eu era esperto não?

- Fui. – ela pensou um pouco, como se decidisse. – Bom, foram três dias muitos longos, quase deixei Elidia louca, fiquei preocupada com sua segurança.

Eu estava a ponto de me irritar, e reclamar, sobre a parte da segurança, quando outro detalhe prendeu minha atenção.

- Três dias? Não voltou hoje?

- Não, voltamos no sábado.

- Então por que nenhum de vocês foi a escola? – eu estava irritado, tinha quase morrido pela falta dela.

Tudo bem, nada de exageros histéricos, Eduardo!

- Bom, você perguntou se o sol me machuca, e não machuca. Mas não posso sair na luz do sol... Pelo menos, não onde todo mundo possa ver.

- Por quê?

- Um dia eu mostro. – prometeu ela.

Pensei um pouco, eu não era muito sentimental e tal, mas não conseguia pensar em perder ela.

- Podia ter ligado. – comentei.

- Por quê? – ela ficou confusa. – Eu sabia que você estava bem.

- Mas eu não... – hesitei, olhando para baixo confessei, sentindo-me um tolo. – Não gosto quando estou longe de você. Me deixa ansioso... – isso era romântico demais para mim.

- Ah. – gemeu ela baixinho. – Isso é um erro!

- O que? – não entendi o que eu tinha feito de errado, eu tinha sido delicado e tudo.

- Não vê, Edu? Isso é errado! Uma coisa é eu me envolver, outra bem diferente é você se envolver. Não quero que se sinta assim. É errado! Não é seguro. Eu sou perigosa. Entenda isso, Edu, por favor.

- Não. – despejei, corajoso.

- Estou falando sério. – grunhiu ela.

- Eu também. Não me importa o que você é. É tarde demais.

- Nunca mais diga isso. – a voz dela era ríspida.

Ficamos num silêncio estranho, olhei para fora e soube que logo chegaria em casa.

- Vou ver você amanhã? – perguntei, temendo sua resposta.

- Vai. Também tenho que estudar. – ela sorriu. – E vou guardar um lugar para você no refeitório.

Fiquei animado ante aquela expectativa. Ela parou o carro e encarei a casa de Renata. Não me movi, e nem pretendia.

- Promete estar lá amanhã?

- Prometo.

Considerei sua expressão por um momento e depois assenti.

- A gente se vê amanhã. – desejou ela, e eu sabia que era para mim sair do carro.

Abri a porta e me virei.

- Edu?

Voltei a olhar para ela, nossos rostos bem perto, sensação de dejá vu me acometeu.

- Sim?

- Bom noite. – desejou ela.

Me aproximei de seu rosto.

- Por favor, não!

Meio acuado e ferido com sua recusa me afastei, meu rosto magoado. Ela reparou.

 - Desculpe. Outra hora eu te explico.

Ela olhou para o outro lado, sai batendo a porta com mais força do que a necessária.

Entrei em casa magoado. Renata veio aos saltos e aflita ao meu encontro. Comentei sobre o filme e inventei algo – nunca contaria o que realmente tinha acontecido, muito menos que fui salvo por Clara.

 Assim que possível, inventei uma desculpa e fui para meu quarto, com a cabeça cheia, logo adormeci.