47 - Quebrando as regras

 

 

Quando acordei pela manhã, em minha mente rodava tudo que tinha acontecido. Tudo o que eu e Clara tínhamos conversado. Corri até a janela e vi que havia uma neblina e estava escuro, absolutamente perfeito. Ela não tinha motivos para não ir à escola hoje. Coloquei minhas roupas, sem esquecer o casaco.

Quando desci, Renata já tinha saído – o que me fez reparar que eu ia me atrasar para a aula. Engoli meu café da manhã apressadamente e sai de casa.

A neblina era tão densa que eu estava a poucas distancia do portão quando percebi o carro; um carro prata.

Não vi de onde ela veio, mas de repente ela estava ali, aguardando-me no portão. 

- Quer uma carona comigo hoje? – perguntou, divertindo-se com minha surpresa. Havia incerteza na voz dela. Mas me dava alternativas – eu podia recusar e sabia que parte dela desejava isso.

- Claro. – disse animado. – Ei, eu posso muito bem fechar a porta. – resmunguei, quando ela fez isso por mim, dando uma risadinha da minha indignação.

Fiquei em silencio, observando-a enquanto ela praticamente voava pelo asfalto.

- Que foi, não tem vinte perguntas hoje?

- Algum problema com minhas perguntas? – resmunguei.

- Não. Apenas com sua reação as respostas.

- Espera o que? Que eu saia correndo e gritando como uma menininha? – defendi-me.

Ela riu.

- Até o mais normal dos homens correria com isso. – comentou.

- Já disse que não sou normal, obrigada. – resmunguei, zangado.

Ela riu e percebi que entrava nos estacionamento da escola. Então percebi, tardiamente.

- E sua família?

- Eles usaram o carro da Etelvina. – ela deu de ombros ao estacionar do lado de um conversível vermelho. – Chamativo, não é?

- Uuu, caramba. É incrível! Se ela tem isso por que pega carona com você? – eu com certeza não pegaria – ou talvez pegasse, ficar com a Clara era melhor que o carro. Se bem que um carro daqueles...

- Como eu disse, é chamativo. Nós tentamos nos misturar.

- E não conseguem. – comentei, lembrando-me do meu primeiro dia de aula, quando os vi pela primeira vez, separados do resto da escola. – Então por que ela veio com ele hoje, se é chamativo?

- Não percebeu? Estamos quebrando todas as regras. – estávamos saindo do carro.

- Por que tem carros assim então? Além de serem maneiros e tal. Ual, eu queria um desses. Mas por que os tem se não querem chamar a atenção?

- Um prazer. – admitiu ela com um sorriso diabólico. – Todos gostamos de muita velocidade.

- Imagino. – murmurei.

Caminhamos para o interior da escola e – sem novidade – todos os olhares convergiram para nós.

Clara deu uma risadinha.

- Qual é a graça? – perguntei, aproveitando meu momento celebridade.

- Estão pensando: Uh, o garoto novo conseguiu conquistar a Buzzi. Isso é impressionante. – ela riu mais um pouco, sua risada parecia musica aos meus ouvidos, fiquei entorpecido. – Acho que vão fazer uma estatua para você, o garanhão da escola. – ela zombou.

- Rá, rá. Admite Clara, nem você resiste ao meu charme. – provoquei.

- Você é tão egocêntrico. – ela fez uma careta, e tive certeza que foi a careta mais bela que vi na vida. Um sorriso brincava em seus lábios.

- E você é um esnobe. – comentei com meu sorriso torto.

Ficamos nos olhando, rindo um para o outro, com nossa briguinha tola. Até que – tive vontade de matá-lo – Mike nos interrompeu.

- Ei, Eduardo?

Foi com dificuldade que olhei para ele.

- Oi.

Mike veio olhando minha acompanhante.

- Bom dia, Mike. – Clara cumprimentou com educação.

Mike parou, um pouco abobalhado. Lancei um olhar raivoso para Clara.

- É... oi. A gente se fala na aula. – ele acenou para mim.

- Tinha que ficar deslumbrando os outros? – perguntei, zangado.

Ela deu de ombros.

- É natural. Sei que você tenta, mas não alcança meu charme. E seu amigo está cheios de perguntas para você. – ela deu uma risadinha, quando o sinal tocou.

- Maravilha! Vou virar uma menina fofoqueira!

- Não se preocupe. Posso me dar ao luxo de ouvir sua conversa ao invés de prestar atenção na aula.

- Você não vai fazer isso, não é? – fiquei ansioso.

- Boa aula. – respondeu de modo angelical, que me deixou ainda mais nervoso.