56 - Não Magoe
Fiquei irritado.
- Isso é legal. E eu ia preferir muito mais ser forte como você do que ser mais fraco que uma garota. – resmunguei.
- Sempre com o orgulho. – ela retorquiu, zangada.
Paramos diante da minha casa. Eu não queria deixá-la, mas meu estômago roncou.
- Ah, desculpe, não estou acostumada a ficar tanto tempo com alguém que come constantemente. – ela comentou. – Acho melhor você entrar.
Olhei para a casa, estava escura e vazia. Isso significava que minha mãe não estava em casa.
- Você pode entrar também. – convidei, jogando um charme. – Conhecer a minha casa.
Ela sorriu, maravilhada.
- Vai ser ótimo.
Eu estava abrindo a porta do carro quando Clara já estava do meu lado.
- Não me ajude! – grunhi.
Ela deu uma risadinha, mas não se moveu. Peguei na mão dela enquanto íamos até o portão. Ela o abriu tão rapidamente que eu nem vi. A puddle cor de rosa correu ao nosso encontro, latindo.
O cachorro parou, longe de nós. Com um ganido sofrido ela correu para longe. Eu olhei para Clara, ela parecia angustiada com isso.
- Sabe, eu queria poder afastar essa coisa de mim dessa forma. – murmurei em seu ouvido. Ergui minha mão e coloquei o cabelo dela atrás de sua orelha, me aproximando. Ansiando por mais um beijo dela.
Eu queria passar o resto da minha vida fazendo isso.
Meu estomago roncou no meio do caminho. Dando apenas um beijo rápido eu me afastei.
- A natureza me chama. – resmunguei, mau humorado.
Ela riu.
- Não vamos deixá-la esperando. – quando fui pegar a chave no esconderijo para abrir a porta, ela já estava aberta e Clara parecia nem ter se movido.
- Como você abriu a porta?
- Peguei a chave escondida.
Ergui uma sobrancelha.
- Eu... tenho te vigiado. – confessou.
- É? – meu coração disparou, fiquei mais bobo do que nunca. Entrei em casa depois de outro protesto do meu estômago. Acendi a luz e segui para a cozinha, direto para a geladeira.
Ouvi a porta da frente se fechar e instantaneamente Clara estava na cozinha, sentada numa cadeira à mesa, seu rosto perfeito parecia deslocado no meio de um local tão comum como uma cozinha.
- Com que frequência? – perguntei, enquanto levava um pedaço generoso de lasanha para o micro-ondas.
- Muita. – ela respondeu. – Você é engraçado quando dorme.
- Engraçado? – olhei para ela, sem acreditar que ela me achava engraçado dormindo.
- É... interessante.
- Você gosta é de ficar me analisando quando estou dormindo né? – provoquei.
Notei que Clara ficou muito imóvel. Entendi aquilo como um sim.
- Eu que gostaria de nunca dormir. E poder passar esse tempo olhando para você. – comentei, olhando para o prato girando no micro-ondas, não querendo olhar para ela nesse meu momento tolo romântico.
Clara estava do meu lado e pegou minha mão.
- Sua mãe vai chegar logo. Acho que não posso estar aqui. – comentou. – Vou levar o carro para casa.
- Volte. – pedi.
- Sim. – e apenas sua voz fantasmagórica ficou para trás, não havia nenhum sinal de que ela havia partido. Eu estava sozinho na cozinha.
Minutos depois Renata abriu a porta e entrou.
- Eduardo. Bebê?
- Mãe, não me chama assim! – resmunguei da cozinha. Agradecendo que Clara não estava mais ali – seria humilhante.
Renata apareceu na cozinha.
- O meu filho, você sempre será meu bebê. O que fez hoje? Saiu com alguma garota?
- Eu me diverti bastante. – fiquei na defensiva. – É claro que sai com alguma garota. Muitas garotas! – murmurei.
Ela riu.
- Muitas não, Duduzinho. Você tem que ficar com apenas uma querido. Não magoe os sentimentos delas. Senão você será magoado um dia.
Revirei os olhos.
- Ah, que besteira. Eu nunca vou me deixar magoar por uma mulher. – resmunguei.
Peguei meu pedaço quando o micro-ondas apitou e comecei a comer rapidamente.
- Vai sair novamente? – Renata me observou.
- Não. Quero ir pro meu quarto. – resmunguei, mas eu devia estar excitado demais – a ideia de que Clara me esperava lá era animadora.
Renata parecia desconfiada.
- Você não está pensando em fugir? Não é?
- Bom, seria tão ruim se eu fizesse isso para namorar? – provoquei.
- Seria muito ruim. – ela resmungou.
- E se minha namorada pulasse pela janela? – continuei provocando.
- Se ela for a mulher maravilha para pular pro segundo andar. – minha mãe riu. – Estou sendo uma mãe chata, né Eduardinho?
Acenei com a cabeça, tentando não ser tão sincero quando eu queria ser. Iria magoá-la.
- Bom, vou subindo. Boa noite. – pulei os degraus de dois em dois, animado demais para me controlar. Meu coração batia acelerado quando parei diante da porta do meu quarto