31 - Teoria
- Está falando sério? – eu queria me beliscar para garantir que não era sonho.
- Acho que sim. Só vou alertá-lo de que não sou boa para você. – disse-me com seriedade.
Ela não era boa para mim? Que piada sem graça.
Dei um largo sorriso.
- Outra coisa, primeiramente, seremos apenas amigos. O machista terá que provar que pode conquistar uma garota. E sem arrasar corações alheios. – ela foi bem clara na mensagem.
Revirei os olhos.
- E ai, machão, vai desistir? – zombou.
- Nunca! – meu tom era desafiador.
O sorriso de Clara aumentou.
Ficamos olhando um para o outro.
- O que você está pensando? – perguntou ela, curiosa.
- Estou tentando entender você. – contei.
Seu queixo se apertou, mas ela manteve o sorriso no rosto com algum esforço.
- Está tendo sorte? – perguntou num tom meio rude.
- Não muita. – admiti.
Ela riu.
- Quais são suas teorias?
Eu sorri. Andava pensando em revistas de quadrinhos: Bruce Wayne e Peter Parker. Ela iria morrer de rir com isso.
- Não vai me dizer? – perguntou ela, virando a cabeça para o lado com um sorriso tremendamente tentador.
Sacudi a cabeça.
- Isso é muito frustrante, sabia? – queixou-se ela.
- Não. Não há nada de frustrante. Só por que alguém se recusa a dizer o que está pensando, mesmo que o tempo todo esteja fazendo pequenas observações obscuras que pretendem especificamente que você fique queimando neurônios se perguntando o que poderiam significar... Ora, por que isso seria frustrante?
Ela deu um sorriso duro.
- Ou melhor – continuei – digamos que a pessoa tenha uma série de atitudes estranhas. Te salvando num dia e o esnobando no dia seguinte. Sem explicar o que isso significa mesmo que tenha prometido. Isso também não seria nada frustrante.
- Você tem um gênio, hein?
- Apenas falo a verdade. – retruquei.
Ficamos nos encarando, sem sorrir.
Ela olhou por sobre meu ombro e depois, inesperadamente, deu uma risadinha.
- Que foi?
- Parece que sua namorada está se perguntando se deve ou não interromper nossa briga. – ela riu novamente.
- Tenho certeza de que está enganada. – contestei. Ela não podia saber disso.
- Não estou. Eu lhe disse, é fácil interpretar as pessoas.
- A não ser a mim, é claro.
- Sim. A não ser você. – seu humor mudou de repente. – E eu me pergunto o por que disso.
A intensidade de sua declaração me deixou ansioso. Abri minha coca para poder fazer alguma coisa. Tomei um gole, espreitando a deusa a minha frente.
- Não está com fome? – perguntou ela, distraída.
- Não. E você? – mentira, eu estava faminto, mas como não peguei nada para comer, me recusava a me levantar para ir buscar algo – não queria perder meu precioso tempo com ela.
- Não. Não tenho fome. – não entendi a expressão dela. Parecia curtir alguma piada particular.
- Pode me prometer uma coisa? – pedi.
Ela ficou tensa.
- Depende.
- Não é grande coisa. – garanti a ela.
Ela esperou, em guarda, mas curiosa.
- Você poderia me avisar quando decidir me esnobar novamente?
- Parece justo. – notei que ela apertava os lábios para não rir.
- Obrigado. – resmunguei.
- Então posso ter uma resposta em troca? – perguntou ela.
- Uma.
- Me dê uma teoria.
Epa.