32 - '' Matar aula é bom ''
- Essa não. – fechei a cara. Nunca que eu admitiria.
- Você não especificou, só prometeu uma resposta. – lembrou ela.
- Você também já quebrou suas promessas. – retruquei.
- Só uma teoria. Eu não vou rir. – seu olhar persuasivo caiu sobre mim.
- Vai sim. – Eu tinha certeza disso.
Ela olhou para baixo e depois para mim através dos cílios longos e escuros, os olhos verdes abrasadores.
- Por favor? – sussurrou.
Eu pestanejei, minha mente ficando oca. Senhor, como é que ela fazia isso?
- É... o que? – eu estava confuso. Faria agora qualquer coisa por aquela garota.
- Por favor, me conte só uma teoriazinha? – seus olhos ainda ardiam para mim.
- Hmmm, bom, algo como Mulher Maravilha? – respondi, sentindo-me humilhado. Aquilo era vergonhoso!
- Isso não é muito criativo. – zombou ela.
- Desculpe, foi só o que minha mente machista pode pensar. – retruquei, amuado.
- Nem chegou perto! - zombou ela, parecendo aliviada. - Nem faço parte da Liga da Justiça. - acrescentou com um largo sorriso.
- Droga! - resmunguei. - Mas um dia eu descubro. - informei, perseverante.
- Gostaria que não tentasse. - ela estava séria novamente.
- Por que?
- E se eu não for a heroína? E se eu for a vilã? - ela sorriu brincalhona. Mas seus olhos eram impenetráveis.
- Você está querendo dizer que é perigosa? - mesmo tentando desdenhar o fato, intuitivamente - parece coisa feminina, mas sim, tive uma intuição - sabia que ela era algo anormal.
Ela apenas me olhou, havia alguma emoção indecifrável em seus olhos.
- Mas você não é má. - balancei a cabeça, com um sorriso consolador. - Tenho certeza que não é má.
- Está enganado. - ela pegou a tampa da minha garrafa e ficou girando-a em seus dedos.
Eu sabia que não teria medo, mesmo que ela fosse de fato perigosa. Eu era um homem, como poderia temer uma mulher? - mesmo que seja uma mulher que consegue erguer vans com a própria mão.
Ainda assim, apenas me senti fascinado por estar diante daquela beldade. Ela podia ser perigosa, mas que mal ela poderia me fazer?
O silêncio durou até que eu percebi que o refeitório estava ficando vazio.
- Vamos chegar atrasados. - informei, ainda sentado.
- Eu não vou à aula hoje. - disse ela, girando a tampa com tanta rapidez que virou apenas uma mancha.
- E por que não? - não que eu fosse contrário a matar aula.
- É saudável matar aula de vez em quando. - informou ela.
- Nisso eu concordo, mas não posso faltar. - eu estava levando pau em biologia. Mesmo depois de minha excelente exibição com as raízes de cebola.
Eu odeio estudar!
Ela apenas sorriu.
- A gente se vê depois, então. Machão. - comentou ela.
Eu hesitei, dilacerado. Por fim me levantei e segui para a sala. Sentindo tanta dificuldade para seguir aquele curto trajeto.