1 - A mudança

 

 

Meu pai me levou de carro até o aeroporto com as janelas do carro fechadas e o ar condicionado ligado. Devia fazer uns 35 graus no Rio de Janeiro, o céu estava impecavelmente azul, isento de nuvens. Eu escutava minha música preferida no MP3 – um funk daqueles cheio de batidas, como um gesto de despedida. Minha bagagem não era grande, não sou de frescuras.


 No sul do Brasil, em Santa Catarina, existe uma cidadezinha, tudo bem, nem tão cidadezinha assim, mas uma cidade pequena e relativamente atrasada se comparada com a grande metrópole do Rio, Joinville. Segundo fontes confiáveis, soube que essa cidade está quase mudando o nome para Chuville, devido ao elevado índice pluvial.


Odeio chuva! Adoro o Rio, o sol, o calor, a praia e, obviamente, as mulheres de biquínis.


Nunca fui àquela cidade cujo nome me dá arrepios só de pensar. Mas, agora me mudo definitivamente para lá, uma atitude que assumi que verdadeiro asco. Contudo, não tive escolha, meu pai havia se casado novamente, e Solange, sua nova esposa, veio de bagagem completa, três filhos pequenos. E se tem algo que odeio mais que chuva são crianças.


Tudo bem, Solange é um amor, tenta, quase desesperadamente, provar ao meu pai que é uma melhor mãe do que Renata, minha mãe verdadeira. Mas, quando três pirralhos largam brinquedos pelo seu quarto e pegam você beijando uma garota no seu quarto e saem espalhando para todo mundo, não dá! Disse chega e decidi fugir do inferno que minha casa havia se tornado.


Agora eu dava adeus ao calor, as gatinhas e aqueles monstrinhos que chamamos de crianças.


- Edu – disse meu pai antes de eu embarcar no avião, apenas uma vez, era o tipo calado. – você não precisa fazer isso.


Meu pai é parecido comigo, no formato do rosto, do corpo, mudamos apenas o cabelo e a personalidade. Sentiria saudade dele, isso era certo, do paizão que jogava uma “pelada” nos domingos, claro, antes da entrada de Solange em sua vida, acompanhada da bagagem.


- Que isso. Eu quero ir. – menti. Era ótimo nas mentiras.


- Diga a Renata que mandei lembranças.


- Tá.


- Pode voltar para casa quando quiser. Seu quarto estará lhe esperando. – ele prometeu. Eu sabia que não estaria, pelo menos, não do jeito que eu gostaria. – Se der eu vou te visitar.


Eu sabia que não daria, não com os pirralhos para cuidar.


Ele me abraçou, ou melhor dizendo, me deu uns tapas forte nas costas e me viu partir.


Do Rio para Joinville não existe um avião direto, então, teria que ir até Curitiba, uma hora de avião e depois seguir para Joinville.


Renata ficou extremamente extasiada com toda essa história. Parecia contentíssima que eu, pela primeira vez, fosse visitá-la e não apenas isso, fosse também morar com ela. Já tinha até me matriculado na escola – bem que eu gostaria que ela tivesse se esquecido desse detalhe.


Não sabia como seria morar com ela. Renata, ou melhor, minha mãe, nunca teve contato muito longo comigo. Era incontestável que ela adorava crianças, mas será que conseguiria lidar com um jovem? Ou com um garoto quase adulto? Como será que ela levaria essa situação?


Sabia que ela é toda animada e agitada. Isso talvez me incomodasse. Mas... agora só esperando para saber.


Quando pousei em Joinville estava chovendo. Argh. Já iríamos começar bem. Devia estar preparado para isso. O pior é que as gatinhas devem andar encasacadas o ano inteiro. Droga!


Renata me aguardava no minúsculo saguão de desembarque do minúsculo aeroporto de Joinville. Ela correu ao meu encontro e me abraçou vergonhosamente.


- Eduardo, meu bebê, como você cresceu! – exclamou.


Aquilo foi extremamente vergonhoso, empurrei minha mãe disfarçadamente, com um sorriso amarelo em meu rosto. Ela precisava ser assim, tão... impulsiva?

 

Isso era constrangedor.

1 - A mudança

*...*

Data: 14/08/2010 | De: Cibely

Uauuuuuuuu eu tô gostando desse Eduardo

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