15 - Seus olhos

 

 

Mas não foi por isso que eu tirei a mão rapidamente. Foi somente por que quando ela me tocou, minha mão foi atingida como se uma corrente elétrica tivesse passado entre nós. Bom, meu lado positivo se gabou, é claro que existe algo entre nós.

 

- Desculpa – murmurou ela, recuando a mão de imediato. Mas continuou a pegar o microscópio. Eu senti vontade de tocá-la novamente. Mas ela já analisou a lamina, mais rápida do que eu. – Prófase – concordou, escrevendo numa letra elegante no primeiro espaço de nossa folha de respostas. Ela trocou rapidamente a primeira lâmina pela segunda e a observou com curiosidade. - Anáfase. – murmurou, escrevendo enquanto falava.

 

Para mostrar que confiava nela – garotas gostam disso – peguei sem verificar e troquei a lamina. Dei a olhada mais fugaz que pude.

 

- Interfase.

 

Entreguei a ela o microscópio, queria fazer uma média com a mina, sabia que isso ajudava e lhe sorri de leve. Ela deu uma olhada rápida e escreveu na folha.

 

Nós terminamos antes que qualquer um chegasse perto disso. Eu podia ver Mike e o parceiro dele comparando sem parar duas lâminas, e outro grupo tinha o livro aberto sob a carteira.

 

Assim, com muita infelicidade, não tinha nada a fazer a não ser olhar para Clara. Ela estava me encarando com aquela inexplicável expressão de frustração nos olhos. E eu finalmente percebi aquela diferença sutil em seu rosto.

 

- Você usa lentes de contatos? – perguntei, impressionado por ter sido tão detalhista. Isso não era algo meu, parecia tão feminino.

 

Ela pareceu confusa com a pergunta.

 

- Não.

 

- Oh – murmurei – Achei que tinha algo diferente nos seus... ah esquece. – comentei.

 

Ótimo! Havia passado a impressão de ser um maricas observador. Eca!

 

Mas, olhando em seus olhos, eu sabia que algo estava diferente. Lembrava-me claramente daqueles olhos negros e furiosos que ela me encarou da última vez – absolutamente apaixonada – e agora estavam num tom ocre estranho, mais escuro do que caramelo, mas com o mesmo tom dourado. Eu não entendia como poderia isso estar ocorrendo, a não ser, é claro, que ela mentia sobre as lentes. Mas talvez, Clara estivesse me deixando louco, no sentido literal da palavra.

 

Olhei para baixo, não querendo parecer um idiota. Percebi que sua mão estava novamente fechada com força.