10 - Janta com a Renata

 

Quando a aula terminou caminhei para a casa de minha mãe – agora também minha. Descobri o almoço pronto na geladeira, era só requentar. O lado bom de tudo isso é que minha mãe passa o dia todo fora de casa. O ruim é que tenho que comer comida requentada e lavar a louça sozinho.

 

Durante o trajeto, os Buzzi passaram, num volvo novinho. Eles não deviam ter idade para dirigir, pensei com raiva. Também comecei a recordar nas roupas que vestiam. Juntando o carro, ficou obvio que tinha dinheiro. Era ricos e belos, isso devia levá-los ao topo dos populares, e no entanto, eles se mantinham em seu próprio circulo.

 

Talvez, nos considerem pobres e sem graças diante deles. Isso, é a única forma lógica para eles serem tão excluídos.

 

Quando abri meu e-mail, encontrei um recado de meu pai.

 

“Eduardo”, ele escreveu...

 

 

Espero que a viagem tenha sido boa e que esteja tudo bem. Se desejar mande notícias. Thiarles.

 

 

Este era meu pai, sem exigências. Paciente. Não tinha vontade de escrever para ele, parecendo uma garotinha contando coisas para o diário. Ainda assim, achei que ele merecia algumas notícias.

 

 

Pai,

 

A viagem foi normal. Aqui só chove, pra variar. A escola é legal e já me enturmei.

 

Renata é impulsiva, mas tem sido legal com tudo isso.

 

Eduardo.

 

 

E, por pouco não acrescentei que minha mãe parecia ainda sentir falta dele.

 

Eu estava na internet conversando com meus amigos quando minha mãe chegou em casa. Desci as escadas para ver se tinha algo para comer.

 

- Eduardo? – chamou minha mãe quando me ouviu na escada.

 

Quem mais seria?, pensei comigo mesmo.

 

- Claro.

 

- Oi, meu bebê, como foi seu dia? – ela guardou as compras nos armários enquanto arrumava a mesa para jantar pão. Pão? Mas que droga, pelo menos a Solange fazia um rango legal para a janta.

 

- Hum... O que temos para a janta? – até parece que iria relatar para minha mãe como estava indo na escola, parecendo uma garotinha ávida por fofocar seu dia monótono.

 

- Pão, querido. É sempre isso que eu janto.

 

Eu me senti meio estranho, parado ali na cozinha sem fazer nada; arrastei-me para meu quarto enquanto minha mãe trabalhava. Fiquei conversando com meus amigos até que ela me chamou para jantar.

 

Olhei com desagrado para a mesa, como se fosse culpa dela que eu iria jantar pão. Mas, estava tão faminto que poderia ter comido a própria mesa.

 

Comemos sem dizer nada por alguns minutos. Não foi desagradável Eu não me incomodava com o silêncio. De certa forma, era melhor quando minha mãe não falava.

 

- E então como foi na escola? Fez algum amigo? – ela indagou pela segunda vez.

 

- Legal. Já me enturmei. – comentei, nervoso, não queria conversar com a minha mãe sobre a escola, aquilo era ridículo. Mas... havia algo que eu gostaria de saber. – Conhece a família Buzzi?

 

- A família do Dr. Buzzi? Claro. O Dr. Buzzi é um grande homem.

 

Deve ser bonito como os filhos, pelo jeito que os olhos brilharam, pensei.

 

- Eles... os filhos são meio diferentes. Não parecem se adaptar muito bem na escola.

 

 Renata me surpreendeu ao aparentar raiva.