58 - Namorados
Assim que eu abri os olhos, para mais um dia nublado, procurei imediatamente pela presença de Clara.
Ela estava, maravilhosamente, sentada na cadeira do computador.
Saltei da cama e fui até ela, abraçando-a docemente. Argh, já acordei romântico. Isso é péssimo.
Mas eu estava feliz com a presença dela. Feliz demais.
- Fico feliz que tenha ficado. – comentei, passando a mão em seu rosto duro e perfeito, gravando em minha mente cada detalhe.
- Eu disse que iria ficar. – ela respondeu, um sorriso divino em seu lindos lábios.
Senti vontade de beijá-la. Mas tinha certeza que estava com mau hálito.
- Preciso ir ao banheiro.
Ela sorriu.
- À vontade.
- Minha mãe?
- Já saiu. Não se preocupe.
Corri para o banheiro e escovei os dentes com a maior pressa, senti as gengivas protestarem contra aquele espancamento. Voltei para o quarto, perdendo o fôlego ao vê-la no mesmo lugar.
Ela é tão linda!
- Você saiu? – reparei em suas roupas, quando dei uma nada modesta olhada em seu corpo escultural.
- Queria estar apresentável. E eu já tinha ouvido a melhor parte. – ela deu uma risadinha. A voz parecia música.
- Ouvido? – estranhei.
- Sim. Você não costuma falar. Mas quando fala é muito melhor. – ela sorriu, um brilho nos olhos verdes.
- O que eu falei? – fiquei apavorado. EU tinha sonhado com ela, obviamente. Não costumo sonhar, mas quando acontece a coisa é sempre grandiosa. Hoje tinha sido meio bobinho. Ela era a princesa e eu o príncipe, num cavalo branco – ahhh que vergonha. Que eu não tenha falado isso! Que eu não tenha falado isso!
- Você disse que me amava.
- Ainda tem como me fazer de machão e negar isso? – resmunguei.
- Acho que não. Você é minha vida agora, Eduardo. Minha vida.
Eu a abracei e dessa vez não resisti, tentando beijá-la. O toque foi surpreendente e maravilhoso. E como sempre, durou alguns segundos apenas. O suficiente para me deixar ofegante.
Clara me afastou.
- Hora do café da manhã. – anunciou, a voz controlada.
- Eu vou ser o lanche? – zombei.
Ela fez uma careta.
- Hora de você lanchar. – especificou.
- Hmm, primeiro engorda o lanche para depois comer? – provoquei. Ela se levantou com agilidade e me puxou para fora, outra careta em seu belo rosto com meus comentários.
Enquanto eu comia, ela me contou que tinha planos para hoje.
- Que planos? – fiquei curioso.
- O que você acha de conhecer minha família?
- Hmm, visitar o covil dos vampiros?
- Está com medo? – ela sorriu, esperançosa.
- Claro que não. – resmunguei. – Só não sei se eles vão gostar de mim. Sabe como é. Eu sou humano... Eles sabem que eu sei?
- Não se preocupe com isso. Eles sabem de tudo. Não temos segredos. Ainda mais por que é difícil com minha leitura de mentes, Elidia vendo o futuro e tudo o mais.
- E Joaquim fazendo você ficar ansioso para contar mais.
- Você prestou a atenção. – comentou, com aprovação.
- Sei fazer isso... raramente.
Ela me olhou, um sorriso travesso em seus olhos.
- E você deve me apresentar a sua mãe também.
- Acho que ela já te conhece. – lembrei a ela.
- Como sua namorada, eu quero dizer.
- Ah. Mas isso está errado. – resmunguei, para o choque dela. – EU é que deveria pedir você em namoro. Isso não é comum.
- Como se algo aqui fosse comum. – ela retorquiu.
- Ainda assim. – reclamei.
- Tudo bem, miss Machão. Faça você mesmo.
Eu não era muito bom nisso.
- Hã, Clara, você quer, hmm, namorar comigo?
- Quero. – sua voz parecia de um anjo caído do seu.
- Bom, então você deve me apresentar a sua família. E eu a apresento a minha mãe. Para oficializar, entende.
Ela revirou os olhos.
- Tudo bem agora Eduardo? – ela parecia irritada, mas seu sorriso estragava a tentativa.
- Por mim tudo ótimo. – sorri, galanteador, passando a mão em meus cabelos.
- Já terminou seu café?
Pulei na cadeira.
- Sim.
- Vá se vestir... Vou esperar aqui.
Eu olhei para ela, zangado.
- Minha fala. – lembrei.
- Fala Eduardo. – ela fez uma cara de tédio.
- Agora que terminei vou me arrumar. Me espere aqui. – fiz uma voz de mandão, bem falso.
Ela riu.
- Se você fosse assim... – ela não concluiu.
- Você iria torcer meu belo pescoçinho machista. – terminei, com um grande sorriso. – Adoro relacionamentos selvagens. Já venho. – e subi as escadas, cantarolando comigo mesmo.
Namorado da Clara.
Isso só pode ser um lindo sonho.