45 - É Difícil - Clara Buzzi - Parte 1

 

   

O cheiro delicioso de Eduardo ainda estava no carro quando dei ré e parti para minha casa. Eu não sabia muito bem o que pensar diante daquela situação. Ele tinha descoberto o que nós éramos. Fugir agora era nossa melhor solução.

Mas ainda assim... ainda assim eu não queria ir embora. Não queria ficar longe dele. Por que eu estava apaixonada por um humano. Um humano frágil, arrogante, machista e apetitoso...

Como eu deixei que isso fosse tão longe? Como?

Soquei o volante do carro, controlando minha força para não quebrá-lo. Respirei fundo, mesmo que não me fosse necessário, apenas um costume. Só para poder absorver um pouco mais do cheiro dele. Era atordoante e me queimava por dentro. Mas eu gostava do cheiro.

Mesmo que me queimasse um desejo intenso dentro de minha garganta. Um desejo de beber o sangue dele, eu não conseguia me ver fazendo isso. A imagem que Elidia havia visto, quando conheci Eduardo, ainda me atormentava. Ele estava sem vida... eu bebia seu sangue...

Balancei a cabeça para me livrar desses pensamentos. Era simplesmente horrível pensar naquilo. Eu nunca iria colocar a vida dele em risco. Por que eu estava apaixonada por ele.

Tão frágil...

Tão apetitoso...

Dirigi sem olhar para a estrada, pensando no que tinha acontecido. Minha cabeça girava. Eduardo sabia. Ele sabia o que eu era. Sabia. E ele não queria fugir de mim. Ele não saiu correndo e gritando.

Meu queixo se endureceu. Para o bem dele, ele deveria ter saído correndo de mim. Eu era tão egoísta que não fugi quando devia ter fugido. Não o larguei quando deveria ter largado. Agora as coisas estavam perigosas. Muito perigosas...

Assim que entrei em casa Elidia correu em minha direção.

- Eu vi. Eu vi! – contou ela.

Li em sua mente, podia ver Eduardo me contando que eu era uma vampira. Ainda escutei a pergunta gritando na mente dela.

- Sim. É verdade. Ele descobriu. Vamos embora. – doeu mais do que deveria em mim.

Meu coração latejou como nunca deveria latejar – não depois de minha transformação.

- Você não quer ir. Você não vai embora. – ela murmurou. Eu via a visão dela, eu estava com o Eduardo, sozinha na minha clareira.

- Não... isso não é possível. – murmurei.

- É. E você não vai machucá-lo.

- Não. É o melhor para ele. Devemos ir embora. Ele descobriu quem somos. – tentei ser lógica, embora me queimasse por dentro um desejo – maior do que o desejo pelo sangue dele – de ficar em Joinville. Ficar com o Eduardo.

- Você não quer ir embora. Eu lembro como você ficou... – a pequena da Elidia se postou diante de mim...

Me vi entrando em casa, eu tinha um sorriso estranho e meio bobo, eu realmente dei aquele sorriso bobo? Parecia muito com o momento de hoje, pois Elidia veio ao meu encontro.

“Eu vi”, disse-me ela.

“O que?”, disfarcei.

“Você, ele. O beijo!”, ela quase dava saltinhos diante de mim. “Por que se afastou? Foi tão fofo!”, Elidia parecia sonhadora.

“Fofo? O cheiro dele quase me enlouqueceu. Por pouco não o mordi!”, me exaltei, desesperada por pensar que apenas um segundo poderia ter sido fatal.

“Mas você gostou!”, ela acusou.

“É”, lembrei do beijo dele. “Foi quente e gostoso. Eu me senti bem e feliz. Senti-me viva e bem... humana. Foi estranho.”, comentei, o sorriso bobo voltando ao meu rosto.

- Vê? – o rosto de Elidia me tirou de sua mente, sua lembrança daquele dia. – Vai desistir disso?

Eu olhei para baixo, não querendo admitir que não pretendia largar o Eduardo. Não queria dizer que era tarde para nós, mas acredito que sim, já era muito tarde. Mas será que minha sede venceria meu sentimento?

 - Me deixe pensar. – pedi.