34 - Saindo cedo

 

- Professor? - chamei, respirando pela boca.
    - Eduardo? - a voz dele era alarmada. Meu rosto devia estar péssimo.
    - Eu não estou me sentindo bem. Acho que comi alguma coisa que fez mal. Como já sei meu tipo sanguineo, posso ir a ala hospitalar? - pedi, desesperado. Suando como um cavalo.
    - Claro. Quer ajuda para ir a enfermaria?
    - Não. - apressei em responder. - Eu posso ir andando. - e sai da sala rapidinho, antes que o suor se tornasse um zumbido e eu desmaiasse.
    Fui andando até chegar ao refeitório, onde minhas pernas começaram a tremer. Sentei no chão gelado, orando fervorosamente para não desmaiar. Pelo menos o vento frio estava ajudando a dispersar o cheiro de minhas narinas. Tive vontade de me deitar no chão gelado, mas fiquei com medo que alguém me vissem tão debilitado.
    - Edu?
    Ah, não. Não. Que eu esteja imaginando essa voz. Vai ser tão vergonhoso!
    - Qual é o seu problema? Você se machucou? - agora a voz estava mais perto e ela parecia perturbada.
    Não era imaginação. Fechei os olhos desejando morrer, ou pelo menos não vomitar diante dela.
    - Edu? - a voz dela agora estava bem do meu lado. E ela parecia aliviada. - Pode me ouvir?
    Eu ainda tinha os olhos bem fechados, respirando lentamente.
    - Não. Vai embora.
    Ela riu.
    - O que aconteceu? - perguntou ela.
    - Não estou bem do estomago. - menti.
    - Você está horrível. - disse-me ela, sorrindo maliciosamente.
    - Vá embora. - pedi com a voz fraca. Preferia desmaiar no meio da sala do que diante dela.
    - Então você passa mal quando vê sangue? - perguntou ela, parecendo se divertir com o fato. - Até mesmo com seu próprio sangue? - continuou ela se divertindo.
    Fiz uma careta, ainda sem abrir meus olhos. Eu sentia que tremia e meu estomago se revirava como um animal enjaulado.
    - É só uma pequena vertigem. - informou ela, que provavelmente me avaliava. - Sempre acontece com alguém. - debochou ela. - Fique sentado e respire fundo, logo vai passar. - ouvi as instruções na voz aveludada de Clara.
    - Eu sei. - resmunguei.
    - Isso acontece muito? - perguntou ela.
    - Às vezes. - admiti a contra gosto. Ela deu uma tossida para disfarçar o sorriso.
    Ficamos em silêncio por alguns minutos.
    - Você tinha razão. Eu devia ter matado aula hoje. É muito saudável.
    Ela riu baixinho.
    - Como foi que você me viu? Pensei que estava matando aula.
    - Estava no meu carro, ouvindo um CD. - uma resposta normal, até me surpreendeu. - Qual é sua última aula?
    - Educação Física. - gemi. - Acho que não estou bem para jogar.
    - Posso cuidar disso. Consegue se levantar?
    Abri os olhos e Clara estava diante de mim, de pé, estendendo sua mão. Aceitei e levantei, um pouco trêmulo, mas sem enjoos nem nada dos outros sintomas. Clara me puxou para a secretaria.
    - Mantenha a cara de doente. - sussurrou ela.
    Fiquei parado, mantendo a cara de antes. Ouvi Clara falar suavemente ao balcão.
    - Oi.
    - Sim? - respondeu a secretaria. 
    - Eduardo tem educação física na próxima aula, mas ele não tem se sentido bem. Acha que tenho permissão para levá-lo em casa? - a voz dela era derretida como mel. Tinha certeza que não lhe negariam nada usando aquela voz.
    - Vai precisar de dispensa também, Clara?
    - Não. Obrigada.
    - Tudo bem. Está tudo resolvido. Melhoras Eduardo. - disse ela a mim. Apenas acenei com a cabeça.
    - Vamos. - Clara pegou em minha mão.  Dando-me apoio até seu carro no estacionamento. A mão dela era gelada, gelada demais. Mais gelada até do que minha bunda que estava no piso frio. Estranho.